segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

João Barone


Para entrar no clima desse fim de semana, vou falar do grande baterista João Barone. Fui ao show do Police no Rio, com abertura dos PDS, e achei o momento oportuno para falar do maior baterista de rock que temos (acho que é unânime, né?).

Antes, queria compartilhar a emoção de ver Stewart Copeland (juntamente com John Bonham, Tony Williams e Steve Gadd, um dos meus pilares baterísticos e musicais) ao vivo. Que classe!!!! É claro que algumas músicas, pela integridade física de SC e Andy Summers (Sting agüentaria fácil, fácil) foram executadas de 2ª marcha, sem aquela virilidade dos tempos áureos. Mas elas ganharam um balanço até então inédito para o Police. A idade, nesse caso, fez muito bem. E vê-lo tocando com a maior alegria (todos os 3, aliás), brincando e sendo sacaneado pelo Sting, deixando de propósito as baquetas caírem, tocando uma certa zona entre as músicas, dando uma aula na percussão – isso tudo não tem preço. Vibrei no show como não fazia há mais de 15 anos (quando ia, curiosamente, aos shows dos PDS): cantei junto, bati palma, acendi o celular (ridículo, eu sei), fiz mímica das passagens de bateria com a minha mulher (sabia todas de cor e salteado) e saí do show completamente extasiado. E as poucas músicas que tiveram o arranjo alterado (“Walking In Your Footsteps”, por exemplo), ficaram infinitamente superiores às originais.

Bom, este fim de semana inesquecível (foi a minha primeira visita ao Maracanã!) começou bem, com uma análise do Barone, encomendada pelo O Globo, sobre as semelhanças entre o seu estilo e o de SC. Fiquei feliz ao perceber de que algumas coisas que eu já havia escrito por aqui até que procediam...
http://oglobo.globo.com/blogs/jamari/post.asp?cod_Post=83111&a=39

Ao contrário do que escreveram muitos jornalistas brasileiros após o show, não existe base de comparação entre os dois, Na verdade, não dá para comparar SC com ninguém. Ele criou uma linguagem nova, que só ele sabe falar, só ele tem o dicionário. Começou e vai acabar com ele. É realmente uma divisão (ou um outro caminho) na forma de tocar bateria.

João Barone, apesar do estigma que o persegue desde o início da carreira, é um baterista bem diferente de SC e possui o seu próprio estilo. Acho que pela disposição da bateria e pela forma de segurar a baqueta ele tenha sido injustamente enquadrado como cópia de SC. Mas desde o 1º disco dos PDS, JB já mostrava que tinha personalidade e musicalidade de sobra para acompanhar os caminhos criativos de Herbert Vianna.

Como já escrevi bastante sobre esse assunto numa postagem antiga
http://txotxa.blogspot.com/2007/04/stewart-copeland.html, vamos direto seleção musical de hoje:

DOS RESTOS (0'10")
Big Bang, 1989
Esse é um disco dos Paralamas que, na minha opinião, merecia mais atenção das pessoas. Como “Perplexo” e “Lanterna dos Afogados” viraram hits, as outras músicas ficaram meio esquecidas (não nos shows, pois funcionavam muito bem ao vivo). Gosto muito da bateria de JB nesse disco inteiro. Como os PDS vinham de uma turnê intensa, tocando sempre, dá para sentir esse clima de banda foda em todas as faixas. Acho que se JB gravasse essa música hoje, ele a faria com um pouco mais de balanço entre as partes. Mas, de qualquer forma, essa batida funciona muito bem para a música. Gosto muito do final, com a percussão e a bateria dando as cartas.

MARUJO DUB (3'14")
Selvagem?, 1986

A dupla Sly & Robbie assumidamente foi, junto com o time do UB40, uma das maiores influências da cozinha Bi & Barone – acho que até a linha de baixo é copiada de uma música gravada por Robbie Shakespeare. Mas ao longo dos anos, os brasileiros foram ampliando consideravelmente o campo de ação e, eventualmente, deixando para trás os mandamentos jamaicanos do reggae. Mas aqui eles se encontram no auge dessa influência, que viria a se misturar com os ritmos brasileiros, transformando a cozinha dos PDS na base mais sólida do rock nacional. Adoro o som dessa bateria (principalmente das coisas eletrônicas). Essa gravação mostra o quanto Barone era (e ainda é) consistente com o andamento.

NAVEGAR IMPRECISO (6'00")
Severino, 1994
Esse disco foi um dos maiores que o rock nacional já produziu, mesmo que gravado na Inglaterra (pelo menos 80% dele), com produtor gringo e tudo mais. A riqueza de arranjos, de sons, de conceitos e de participações nunca aconteceu de novo por aqui. Só fiquei triste ao ouvir o Herbert Vianna dizendo que, por causa da baixa vendagem do disco (apesar de “Cagaço” e “Dos Margaritas” terem tocado nas rádios), eles não iriam mais produzir discos para “ficar na estante dos parentes e dos amigos”. De qualquer forma, esse disco é muito foda. E essa música, com as vozes de Tom Zé e Linton Kwesi Johnson, é incrivelmente bem produzida e arranjada. Barone amarra a música e carrega com muita propriedade uma batida meio complicada, com um ximbau incrivelmente preciso..

O PASSO DO LUI (9'15")
O Passo do Lui, 1984
Até hoje gosto muito dessa música. Não cheguei a assistir a um show deles que ela estivesse no set list, mas queria ter ouvido uma versão ao vivo, mais vitaminada. Essa gravação (aliás, esse disco) mostra o Barone muito ligado nas coisas do Stewart Copeland. Mas independente disso a bateria dele é fodassa. Uma introdução como a de “Óculos” (independente da inspiração) é sempre digna de nota. E nessa gravação que dá nome ao disco, ele passeia pelas diversas partes do arranjo com muita firmeza e precisão.

O HOMEM (11'32")
D, 1987
Skank e Rappa passaram longos anos tentando imitar isso e nunca chegaram perto. Sem querer dar uma de vibrão, eu diria que essa gravação (e a música, também) é um das melhores dos PDS. Aliás, o disco é impressionante (o melhor ao vivo que eles já lançaram e, talvez, o melhor do rock brasileiro), sem falhas, com pegada e vigor de sobra. Barone dá um show, tocando nas peças eletrônicas sem perder um centímetro da categoria. Eu considero a 1ª parte do dubwise (baixo, bateria e o pandeiro do tecladista João Fera), nos 14'06" do podcast, um dos melhores momentos dos PDS.

POR SEMPRE ANDAR (15'51")
Hey Na Na, 1998
Isso é introdução para derrubar qualquer um da cadeira. A batida é sensacional (e que percussão!). Um dos poucos momentos em que o pedal duplo de JB serve bem ao arranjo. Esse disco me deu uma alegria muito grande, pois parecia indicar um caminho para os próximos discos de estúdio dos PDS: alguns hits mais alegres e outras músicas mais experimentais, com mais personalidade. Infelizmente, o trágico acidente com HV acabou com qualquer expectativa que se poderia ter a respeito do grupo. De qualquer forma, esse disco é excelente. E essa música tem uma das melhores partes de guitarra que HV já gravou.

O ROUXINOL E A ROSA (19'07")
Os Grãos, 1991

E por falar em superlativos, taí o melhor disco dos PDS. De todos que eles já gravaram, se eu tivesse que escolher um para a posteridade, escolheria esse. Aqui os PDS dão uma aula de composição, de arranjo e de produção (com o parceiro Savalla). Escolhi essa música pq tem uma pegada diferente, com um clima de Rolling Stones. Barone sempre se sai muito bem nesses andamentos, meio-tempo de rock clássico, e mostra que entende tanto de reggae quanto de rock. E o baixo de Bi Ribeiro é um dos mais fodas que já ouvi nos discos dos PDS.

BUNDALELÊ (22'51")
Bora-Bora, 1988

É certo que não podemos viver apenas no campo emocional. Eu sei que temos que colocar a cabeça para funcionar de vez em quando no esquema duro da realidade. Mas quando o assunto é “disco com o maior número de lembranças da sua vida” o Bora-Bora é um dos campeões. Eu era muito fã dos PDS nessa época. Sabia tudo de cor, ia a todos os shows, tocava (com minha primeira banda) a maioria das músicas do lado “A” desse disco. E a lembrança dessa música é ainda mais especial. Como se fosse hoje, me recordo do dia em que a tocamos pela 1ª vez. A sensação dessa bateria, com os sopros, com essa guitarra (mesmo que tocada por um bando de moleques) ainda me arrepia. Uma coisa engraçada sobre esse disco era a quantidade de discussões que tínhamos na escola sobre como tocar as baterias corretamente. Quem soubesse fazer igualzinho, por exemplo, a bateria de “Uns Dias”, ganhava imediatamente o título de “melhor baterista da escola”.

CAPITÃO DE INDÚSTRIA (25'14")
9 Luas, 1996
Clássico JB. Ele passeia pela música, dando o balanço certo, na hora certa. Esse disco, aliás, tem umas baterias maneiríssimas (e umas músicas meio suspeitas). Mas ao vivo, nos shows dessa época, eu acho que JB acabou se tornando uma cópia de si mesmo. E se não me engano, nessa época (ou um pouco antes), ele começou a usar o pedal duplo de uma forma meio lascada, pouco musical. Mas aqui ele toca o “feijão com arroz” que, em termos de cadência e pressão, o diferencia de 99,9% dos bateristas brasileiros.

SÁBADO (28'40")
Os Grãos, 1991
A melhor gravação do melhor disco do PDS. Nunca ouvi o grupo tocar com tanto balanço, com o som tão amarrado, com tanto estilo. Sei que rola uma base eletrônica pesada, mas acho que a bateria toca junto, por cima de tudo, em muitos momentos. Tamanha é a cadência de Barone, fica até difícil fazer essa diferenciação. Posso estar falando besteira, não sei... De repente não tem bateria nenhuma... De qualquer forma, a menção fica registrada (até mesmo pq ele toca dessa mesma forma ao vivo. Com um pouco menos de bumbo, mas com o mesmo balanço). Detalhe para o sample de “Good Times, Bad Times”, do Led Zeppelin, no bridge antes do solo de guitarra.

IMPRESSÃO (32'29")
Bora-Bora, 1988

Lado B sensacional do disco. A pressão dessa batida é impressionante. Se eu tivesse que escolher uma música que representasse a bateia JB, escolheria essa. Tem tudo: cadência impecável, dinâmica de sobra, escolha de timbres e peças, pegada e balanço de sobra. Curto também o arranjo, com citação dos Beatles, com a voz do HV lá no fundo e com o baixo amarrando tudo.

Podcast: http://lomez.mypodcast.com/


Era isso.
abs
Txotxa

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Larry Mullen Jr.


Larry Mullen Jr é um cara que há muito tempo admiro. Seja por sua conduta low profile na maior banda de rock das últimas décadas, seja por seu estilo atrás da bateria, LM sempre teve a minha torcida. Ele toca simples, mas com uma pressão e precisão que não estamos acostumados a ouvir. Daniel Lanois, um dos sócios-produtores do grupo, foi quem melhor resumiu a arte de Larry Mullen com as baquetas: “He always delivers”. Não importa a situação, o arranjo, o dia, LM facilita a vida de qualquer produtor e engenheiro de som, pois toca com a firmeza de quem sabe exatamente o que quer. E isso, por mais elementar que possa parecer, não é nada simples. É comum vermos um músico querendo tocar além do que sabe e se atrapalhar numa gravação, num ensaio ou num show. Por isso, ter a exata noção de suas capacidades é tão importante quanto ter de fato essas capacidades. E Larry Mullen sabe disso.

Desde o primeiro disco do grupo, ficou claro que LM não era um baterista comum. Nem tanto por sua técnica (que era similar a da maioria dos bateristas do pós-punk), mas por sua decisão na hora de tocar. A impressão que me passa ao ouvir as suas baterias (das antigas às mais recentes) é que está tudo escrito em algum lugar. John Bonham é um cara que passa essa impressão, mas podemos sempre ouvir algum improviso seu (principalmente ao vivo). Já LM, no momento em que define a batida em sua cabeça, segue inabalável, sem dúvidas quanto à qualidade do que está fazendo. Numa analogia futebolística, isso corresponderia a um jogador que bate sempre bem na bola, sempre na direção certa, sempre com objetividade, sempre jogando em prol do time. E isso, na minha opinião, é a principal e a primeira função de qualquer baterista: jogar para o time. Isso implica em criar uma certa batida, num certo andamento, com uma certa inflexão, que faça com que os músicos ao seu redor toquem mais fácil, toquem melhor. E Larry Mullen faz isso.

No campo menos musical, curto o seu visual clássico bonitão. Desde que resolveu arrepiar os cabelos curtos, nunca mais mudou. Seus colegas já tiveram milhões de disfarces ao longo dos anos, mas LM mantém-se fiel ao seu buzz cut. Além disso, ele é o único cara no mundo que, quando necessário, tem a moral de puxar a orelha do vocalista Bono. Há pouco tempo, quando Bono, por conta de suas atividades extra-musicais, começou a faltar com o U2, foi Larry quem o chamou na regulagem.

Bom, além de tudo isso, Larry Mullen Jr bolou a introdução de bateria mais tocada em todos os tempos (pelo menos nos meus anos 80): “Sunday Bloody Sunday”. Sério, quando esse disco bombou aqui no Brasil, 10 entre 10 bateristas tocavam (ou tentavam tocar) essa batida. Quem soubesse tocá-la se diferenciava instantaneamente do resto da gentalha. E vou te falar uma coisa: nesses 24 anos desde que a música surgiu, nunca ouvi ninguém tocar da mesma forma que Larry Mullen Jr. Mesmo com apenas 20 anos, ele sabia muito bem o que estava fazendo.

Vamos à seleção musical...
http://canal.podcast1.com.br/lomez

OUT OF CONTROL
Boy, 1980
Gosto muito dessa melodia. Dá para ouvir a voz do Bono ainda se acertando, mas a banda já tinha a pegada firme. Acho muito legal o fato de Larry Mullen tocar o bumbo em todos os tempos do compasso. Dá um balanço sensacional, empurrando a música o tempo inteiro. E o arranjo é bem legal também. Poucas vezes o U2 produziu uma música tão direta e empolgante assim.

''40''
War, 1983
Apesar de “Sunday Bloody Sunday” ter sido eleita “a bateria” desse disco, “40” é muito mais complicada. Aliás, toda batida nesse andamento é complicada, pq o baterista (e a banda) tende a atrasar. Além disso, o clima dela é bem de R&B, o que dificulta ainda mais – além da pegada firme, o cara ainda tem que dar o balanço. No finzinho, antes do fade out, LM faz uma variação na caixa que parece meio errada. Não sei... Só sei que se foi erro, ele fez muito bem em não parar o take – uma performance dessas não se repete assim tão facilmente. Me admira que essa batida não tenha ainda sido sampleada.

MYSTERIOUS WAYS
Achtung Baby, 1991
Quando esse disco saiu, a imprensa louvou a mudança de rumo do U2. Muito se falou dos arranjos, dos conceitos, dos timbres, das letras, mas quase ninguém falou da bateria. No documentário do disco, Larry Mullen aparece dizendo: “a melhor coisa do disco é a bateria”. Não sei se a melhor, mas foi ela que tornou possível essa guinada musical do U2. Se ouvirmos os discos anteriores do grupo, não vamos encontrar nada nas batidas que aponte para a revolução de “Achtung Baby”. LM toca nesse disco (e nessa música) com um balanço fenomenal, cheio de swing, mas com a pegada fortíssima de quem veio do rock. E tocar um ritmo desses sem encher a batida de notas é mesmo para poucos.

ENDLESS DEEP
Single, 1983
Logo que comecei a tocar com a Plebe, o André me emprestou um bando de discos sensacionais. Dentre eles, estava o 1º do Comsat Angels. Quando ouvi, achei algumas coisas muito parecidas com o U2. Depois fiquei sabendo que eles (U2) abriram uma das turnês do grupo – o que talvez explique a paixão (copiada?) do The Edge pelos harmônicos na guitarra. Essa música me lembra vagamente o Comsat Angels. Mas o que eu gosto mesmo é a forma como Larry Mullen e Adam Clayton funcionam juntos nessa gravação. Desde cedo os dois já mostravam talento para tocarem juntos.

IN GOD'S COUNTRY
The Joshua Tree, 1987

U2 clássico. Gosto muito do arranjo dessa música. É uma coisa simples, mas note como o baixo para de tocar todo fim do compasso, criando o espaço para a virada da bateria. Acho legal também o fato de Larry Mullen usar, nessa música, o surdo no lado esquerdo – dá um clima diferente para a execução. Uma curiosidade sobre essa época é que LM não usava prato de condução, tamanho era o seu comprometimento com o cerne da batida.

THE REFUGEE
War, 1983
Aqui LM dá show, usando tambores, timbales, cowbells e tudo mais. Linha de baixo muito bacana, também. E guitarra nota 10! Eu era muito moleque para acompanhar as críticas mais adultas sobre esse disco, mas a qualidade de LM nesse disco é digna de nota. Talvez por dividir os holofotes com The Edge (que é um dos maiores guitarristas do séc. XX), Larry Mullen tenha sido sempre meio desprezado.

THE ELECTRIC CO.
Boy, 1980

Uma das melhores músicas do U2. Vi que eles voltaram a tocá-la nessa última turnê. Sensacional. É uma aula de vitalidade na bateria. Note como LM toca o tempo inteiro, mudando as batidas, numa música cheia de partes, com várias dinâmicas. A guitarra do The Edge é também uma das melhores. E Adam Clayton nunca mais chegou perto desse gás nas 4 cordas. E quem se importa com o andamento dando uma corridinha do meio para o final? Sem trocadilhos, uma das performances mais eletrizantes do grupo.

BEAUTIFUL DAY
All That You Can't Leave Behind, 2000
Essa tocou muito. O grande barato é ouvir como LM tira de letra um troço que é o pesadelo de qualquer baterista de rock: tocar em cima de uma base gravada. E ele faz isso ao vivo do mesmo jeito, sem suar. Esse disco mostra como a relação músico-produtor é uma coisa importante. Independente do gosto, todos os discos do U2 que foram produzidos por Daniel Lanois têm baterias sensacionais. E isso vem da admiração incondicional que DL tem por LM. No documentário do “Joshua Tree”, tem uma cena em que Larry Mullen grava a bateria e Daniel Lanois aparece vibrando, batendo cabeça atrás do vidro da técnica.

LIKE A SONG...
War, 1983
Essa é pelo som de bateria, quase industrial. Uma coisa que não se ouve mais é o baterista variar a batida o ximbau (dobrando as notas) no meio da música. Não sei se é pq se tornou uma coisa uma coisa muito batida nos anos 80 – cara dobrava no refrão e diminuía na estrofe (ou vice-versa). Aqui LM faz isso com categoria, sem perder a pegada. Gosto muito da levada dos tambores, também.

BAD
The Unforgettable Fire, 1984

Aqui, Larry Mullen dá uma aula no quesito dinâmica e orquestração dos seus tambores. Note como a bateria vai crescendo junto com a música. E não é só no volume – ele muda as partes da bateria para acompanhar o arranjo. Não tem nada de revolucionário, eu sei, mas é de um bom gosto fora do comum. Essa música ficou meio desgastada, com um jeitão de hino, mas mostra o quanto o U2 era uma banda musicalmente superior. Afinal, são dois acordes (acho que é isso, né?) tocados ao longo de 6’, sem nenhuma gordura no arranjo. E que baixo, hein?

Era isso.
abs
Txotxa

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Max Roach (1924 – 2007)


Antes de mais nada, queria explicar um pouco como é a minha rotina na criação das postagens. É mais ou menos assim: depois que escolho o baterista, vou atrás da seleção musical. No caso de caras de banda isso é mais fácil, pois vou atrás da discografia do grupo e pronto. Quando não tenho um disco, baixo e tá tudo em cima. Já com os carinhas mais velhos (e com essa galera do jazz vai ser sempre assim) a coisa fica mais difícil. Eu tenho a maioria dos discos que eu pretendo listar (até mesmo pq foram esses os discos que me fizeram gostar desses caras), mas como esses sacanas possuem uma discografia imensa (não só como líderes, mas também como acompanhantes), daria um trabalho animal ir atrás de TODOS esses discos. Por isso, as músicas que entram no podcast obedecem aos seguintes critérios: (1) são artisticamente representativas; (2) dão pano para a manga (texto); e (3) podem agradar o público que não é baterista. E quanto à pesquisa, eu me comprometi a não correr atrás muito de biografias. Começo sempre com o que já sei e vou apenas checando (datas, principalmente) nas Wikis da vida.

Bom, vamos então ao homenageado de hoje, um dos maiores gênios (e aqui a gente pode usar essa palavra) que já segurou uma baqueta: Max Roach. Eu sempre tive a maior simpatia por MR. Os outros fodões do jazz me metiam medo, muitos pelo fato de serem junkies barra pesada, outros por serem meio marginais. Max Roach, no entanto, sempre me transmitiu uma boa vibe.

Além disso, a sua bateria era (e foi até a sua morte) sinônimo de responsabilidade, de dedicação, de comprometimento com uma coisa maior, maior que ele, que os seus amigos músicos, que a cena bebop de Nova Iorque (que ele ajudou a criar e consolidar). Maior até mesmo que o jazz. Cada batida de Max Roach se reportava diretamente à cultura milenar da África, à cultura dos seus antepassados, e respeitava e honrava essa tradição.

É claro que era um jazzista, mas tinha uma consciência (e talvez ele tenha sido o maior nesse sentido) que a música podia, e devia, se envolver nas questões sociais, como, por exemplo, a luta por direitos civis dos negros norte-americanos nos anos 60. Para MR, a música deveria ser um statement, deveria representar (e defender) algo.

Não quero passar a idéia de que ele era um desses ativistas chatos (até mesmo pq essa veia mais “revolucionária” só surgiu com o passar da idade). Max Roach era um músico fodasso, daqueles que metem medo (no sentido musical) em qualquer um, que escreveu boa parte do dicionário do jazz moderno. Entre os anos 40 e 60, tocou com os maiores. E, até hoje, é considerado o mais moderno de todos os bateristas. Se não existisse Max Roach, certamente não haveria Tony William, Elvin Jones, Jeff “Tain” Watts, Steve Gadd, Jack DeJohnette, entre outros.

Vou falar mais sobre MR na seleção musical, mas, antes, gostaria de contar uma história engraçada sobre ele e Miles Davis. Os dois eram muito amigos, e quando Miles chegou a NY, Max foi o cara que ele mais se apegou. Com o passar dos anos, os dois seguiram caminhos diferentes, mas sempre mantiveram o contato, e, eventualmente, se envolviam musicalmente (MR tocou bateria no clássico “Birth Of The Cool”, de Miles). Mas nos anos 60, quando o ativismo de MR estava a mil por hora, Miles (que estava pouco se lixando na época) foi fazer um show na Califórnia e Max, junto com a sua galera radical, resolveu protestar e se sentou no palco, aos pés de Miles, atrapalhando o show dele. O engraçado, mesmo, é a forma com que Miles descreve a situação, xingando o amigo.

Bom, vamos à seleção musical de hoje:
Podcast - http://canal.podcast1.com.br/lomez

"Dr. Free-Zee"
Max Roach + 4
Max Roach + 4, 1956
Vc pode medir o quão musical é um baterista analisando a forma com que ele segue as pausas de uma música. Tem gente que toca apenas nos ataques, outros ficam tocando entre as pausas e se esquecem de parar na hora certa, e alguns poucos (Roach é um deles) fazem tudo certo: param junto com a banda e dão um colorido entre esses pausas, criando, sem muita cerimônia, um outro tema dentro da composição original – eu é o caso dessa música. Outro detalhe importante é o tímpano (gravado depois por Max Roach). Note como ele repete a melodia, e ainda interage com a sua bateria, gravada anteriormente.

"Toot, Toot, Tootsie, Goodbye"
The Buddy Rich Quintet & The Max Roach Quintet
Rich versus Roach, 1959
A idéia de um duelo entre músicos não é muito considerada nos dias de hoje. De vez em quando, nesses festivais de bateria que acontecem no mundo inteiro, a gente até encontra algumas disputas entre bateristas, mas, na minha opinião, elas deixam a desejar sempre nos mesmos pontos: os jurados são todos bateristas e os competidores não querem mais destruir musicalmente seus adversários, o que deixa a coisa toda meio insossa. Antigamente, nos EUA, vc tinha famosas batalhas na TV aberta, em programas de auditório, onde o público comum era o juiz, e os bateristas não tinham piedade do colega. Um episódio engraçado ilustra bem essa atitude: Buddy Rich foi convidado a duelar com o baterista Ed Shaughnessy no popularíssimo “Tonight Show”, de Johnny Carson. Nos camarins, antes do show, Ed pediu para Buddy (que era um monstro) dar uma aliviada, e que não fizesse alguns de seus truques arrasadores. Buddy disse que tudo bem. Quando a batalha começou, Ed arrebentou e ganhou a simpatia do público. Buddy, ao perceber que poderia perder a disputa, sacou suas armas mais poderosas e destruiu Ed. E os dois saíram rindo. A disputa era exclusivamente musical. 100%.
De todas essas “drum battles”, uma muito famosa era a que acontecia entre Buddy Rich e Max Roach. Os dois tinham estilos muito diferentes – o primeiro era mais clássico, e o segundo, um representante da modernidade. Mas ambos eram muito técnicos e cheios de energia. Curiosamente, sempre que os dois encontravam Gene Krupa pelo caminho, perdiam feio. Krupa jogava para a galera (e não é isso que o músico deve fazer?) e, mesmo sendo tecnicamente inferior aos dois, sabia distinguir bem o gosto do baterista do gosto popular.
Bom, nem preciso falar muito dessa música, apenas que Buddy está no canal esquerdo e Max, no direito. Ouça com atenção e escolha o seu vencedor.

"St. Louis Blues"
Max Roach
Drums Unlimited, 1966
Um ótimo momento do encontro entre o tradicional e o moderno. Logo após o tema do sax soprano, a música dá a sua 1ª guinada, com bateria, piano e trompete lembrando, mesmo que de forma muito doida, o clima de uma parada em Nova Orleans. E quando o sax alto toma conta, o andamento dobra a e a música decola. É então a partir do solo do fodasso Freddie Hubbard que podemos perceber a grandeza de Max Roach atrás da bateria. Ele empurra a música a mil por hora, sem perder um notinha sequer, ao mesmo tempo em que interage, quase que instantaneamente, com os solos dos colegas. Os anos em que ele acompanhou Charlie Parker (a mente mais rápida que já tocou um instrumento) certamente o ajudaram a desenvolver essa telepatia musical.

"A Little Max (Parfait)"
Duke Ellington, Charles Mingus and Max Roach
Money Jungle, 1962
Imagine se o futebol não fosse um esporte casca-grossa, daqueles que acaba com o corpo do cidadão em um curto espaço de tempo. Dessa forma, caras como Pelé, Garrincha, Zizinho, Gerson e Ademir da Guia poderiam, em condições de quase igualdade física, jogar com Ronaldinho Gaúcho e Kaká. Pois bem, esse disco apresenta, nessa analogia infanto-juvenil, um time formado por Didi, Romário e Nilton Santos.
Duke Ellington é um dos maiores músicos da história. Ele divide com Louis Armstrong o título de gênio absoluto do jazz. Charlie Mingus é normalmente chamado de gênio (mais até pelas suas excentricidades do que por suas composições), e criou uma vertente musical que começa e acaba com ele (tamanha era a sua inventividade).
Era de se esperar, portanto, como acontece no futebol, que um time com tantas estrelas não jogasse nada. Mas o que acontece aqui é exatamente o contrário. Os 3 funcionam perfeitamente bem. Gosto dessa música (e desse disco) principalmente pelo piano de Duke Ellington. Ele conhece bem os segredos seculares do instrumento. No jazz, poucos entenderam o piano tão bem como Duke, Art Tatum e Nat “King” Cole.

"Brilliant Corners"
Thelonious Monk
Brilliant Corners, 1956
Na minha opinião, um dos melhores discos de Thelonious Monk. Musicalmente, gosto mais das composições dos anos seguintes, mas o conceito desse disco é muito bem amarrado. E o fato de ter MR na bateria torna a coisa ainda mais acertada. Quer dizer, eu acho os outros bateristas que tocaram com Monk funcionavam melhor para as suas composições. Mas a diferença de um cara como Max Roach na bateria, tocando muito mais notas e ocupando mais os espaços, cria um clima bacana para os arranjos, dividindo um pouco da atenção com o piano. Muito legal também é a forma como o andamento vai dobrando ao longo da música.

"Daahoud"
Clifford Brown and Max Roach
Clifford Brown and Max Roach, 1954

De todas as tragédias ocorridas no jazz, a morte de Clifford Brown é uma das mais sentidas. Não sou em quem diz, e sim a maioria dos críticos musicais. Clifford Brown tinha tudo, mas tudo mesmo, para se tornar o maior trompetista de todos os tempos. Tocava fácil coisas que eram dificílimas, sempre com o som cheio, com muito estilo. E, além disso, era um ótimo compositor. Ele morreu aos 26 anos, na época em que liderava, junto com Max Roach, seu quinteto, considerado um dos melhores da época. E numa época em que o quinteto do momento era o de Miles Davis, com um jovem John Coltrane. Aliás, eu diria que o quinteto de Brown e Roach era um dos poucos que poderia ganhar de barbada do grupo de Miles.

PS. Lembro que numas férias em Salvador, no início dos anos 90, conheci um carinha que era vidrado em jazz. Numa de nossas muitas conversas ele me contou sobre Clifford Brown, que tinha descoberto a sua música, mas não via ninguém falando dele, nem no rádio, nem na TV, nem nos jornais. Eu, claro, assim que cheguei em BsB fui atrás da fera. Cheguei a comprar várias coisas dele, mas por conta de dívidas como as locadoras de vídeo (acredite se quiser), tive que vender os discos para o sebo a preço de banana. O fato é que, até hoje, Clifford Brown ainda não recebe a atenção que merece.

"Bastille Day"
Max Roach and Dizzy Gillespie
Max + Dizzy – Paris, 1989
Dizzie Gillespie é um dos maiores gênios do jazz. Se não está no patamar de Duke Ellington, chega ali pertinho, graças ao seu virtuosismo no trompete, às suas composições e à sua mente extremamente privilegiada. Numa época em que os futuros príncipes do jazz (Bud Powell, Charlie Parker, Fats Navarro, Charlie Mingus, Thelonious Monk, entre outros) se perdiam nas paranóias do mundo das drogas, Dizzy mantinha a cabeça sempre limpa, sempre fresca e sempre apontada para o futuro. Se não fosse ele, por exemplo, não existiria essa ponte entre o jazz e a música cubana. Dizzy foi um dos primeiros a perceber o quanto o jazz poderia (e deveria) ser tratado como uma forma respeitada de arte.
Pois bem, esse disco marca o encontro entre dois grandes amigos, dois grandes mestres da arte de improvisar. E apenas os dois – o disco conta apenas com o trompete (e às vezes a voz) de Dizzy e a bateria de Max Roach. Escolhi essa música pq mostra um balanço diferente da bateria de Max Roach. Aliás, é importante mencionar que MR foi um dos primeiros jazzistas a perceber que o futuro da música negra estava no Rap.

"Man from South Africa"
Max Roach
Percussion Bitter Sweet, 1961
Aqui Max Roach estava no auge da sua fase cabeça. A começar pelo título, passando pela instrumentação e pela composição, ele coloca o seu jazz num patamar de coisa muito séria e com uma mensagem. Nesses compassos em tempos pouco usuais (essa música é em 7), podemos perceber o quanto o baterista entende do riscado. Normalmente, as divisões dos tempos em 5, 3 ou 9 soam muito duras, muito matemáticas. Gosto dos caras que conseguem fazer essas mudanças soarem macias, quase que naturais aos ouvidos. Quer dizer, naturais elas são, mas como a gente está acostumado a ouvir as coisas em 4/4, qualquer conta mais ímpar cria um certo incômodo na orelha. O nível desse incômodo, claro, é proporcional à qualidade de quem toca (e de quem ouve). Nota 10 para as congas, que conseguem dar um balanço fenomenal à batida.

"Anthropology"
Max Roach 4
The Max Roach 4 Plays Charlie Parker, 1957
Clássico de Charlie Parker. Aqui, Max Roach, em homenagem ao falecido amigo, dá a sua versão para uma das pedras fundamentais do bebop. MR tocou com CP por muitos anos (os principais) e proporcionou a dinâmica rítmica necessária para CP desenvolver a sua revolução. É interessante notar que essa gravação (assim como esse disco) não possui piano. Isso, ao mesmo tempo em que cria um “buraco” harmônico, dá muita liberdade para os solistas (e, conseqüentemente, para a seção rítmica). Gosto muito da forma como MR vai acompanhando os solos dos colegas. Além disso, a energia da bateria parece inesgotável. Hoje, acho que poucos carinhas conseguiriam tocar dessa forma, nessa velocidade, com essa intensidade.

"The Drum Also Waltzes"
Max Roach
Drums Unlimited, 1966
Quando falei mais cedo sobre a arte como forma de statement, essa música é um ótimo exemplo. Max Roach defendia que a bateria deveria ser tratada como uma pequena orquestra, com peças distintas que, dependendo do contexto, poderiam soar explosivamente juntas ou harmonicamente separadas. Aqui, ele escolheu a segunda opção. Sem querer entrar na questão técnica da coisa, é importante saber que essa música, assim como aquelas valsas de Strauss, funciona no compasso de 3 tempos. O que Max Roach fez de sensacional (além do statement em si) foi manter, ao longo de toda a música, os pés marcando o pulso em 3/4, deixando as mãos livres para solar (e isso é, até hoje, dificílimo). Nessa peça, MR segue a estrutura clássica do jazz, com a apresentação do tema, seguida pelos improvisos, voltando, no final, ao tema. A palavra é gasta e mal usada, eu sei, mas Max Roach aqui é verdadeiramente um artista.

PS. Sempre que alguém puxa assunto comigo sobre bateria, aponta a dificuldade que é usar os pés e as mãos de uma só vez. E eu sempre digo: “Isso é muito mais simples do que parece. A bateria segue apenas o balanço da música – os pés e as mãos vão atrás”. Difícil mesmo, eu sempre penso, é domesticar o instrumento e fazer o que MR fez nessa música.

"Onomatopoeia"
Max Roach
M'Boom, 1979
Nesse disco, Max Roach juntou um time de bateristas de primeira e montou um grupo só de percussão. A sua idéia era trazer a “turma do fundão” para frente do grupo e mostrar como esses instrumentos sozinhos podem dar vida a uma composição (e a um disco). Veja bem, estamos falando do jazz, e não da música erudita, onde existem peças inteiras dedicadas aos percussionistas. Na realidade de Max Roach, com sua ilibada reputação de jazzista, pensar num disco sem sax, trompete ou piano (mesmo no final dos anos 70), parecia algo descabido. O fato é esse disco cumpre o seu papel vanguardista e mostra que bumbo, marimba, tímpanos, vibrafone, xilofone, congas e, claro, bateria, dão conta de qualquer recado. Note como o arranjo dessa música é maneiro: começa meio zoneado, com um clima solto, para chegar numa batida de 11 tempos que vai crescendo, crescendo, num ritmo quase hipnótico.

"Backward Country Boy Blues"
Duke Ellington w/ Mingus & Roach
Money Jungle, 1962
Já falei sobre esse disco antes, por isso vou encurtar a conversa. Vou só reforçar o quanto acho legal esse arranjo, 100% blues, com um piano clássico, com o baixo quase que solando o tempo inteiro e com a bateria dando todo o balanço. É uma daquelas gravações que a gente gostaria de estar lá, batendo os pés e as mãos junto com a música.

Era isso.
abs
Txotxa

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Art Blakey (1919 – 1990)


Mudando um pouco o rumo da prosa, e deixando de lado os colegas roqueiros, vou tentar hoje (ênfase no tentar) falar um pouco sobre os meus ídolos jazzistas. Antes, porém, gostaria de fazer algumas considerações a respeito desse estilo tão reverenciado (e temido) que é o jazz.

Não sou, nunca fui e nunca serei especialista no assunto. Considero-me apenas um entusiasta da coisa, que foi aprendendo na marra, a partir de uma curtíssima literatura, da boa vontade dos amigos e de uma tremenda curiosidade para entender o que faz do jazz a maior expressão cultural norte-americana.

Bom, depois de alguns anos batendo cabeça, pude compreender algumas coisas. Uma delas diz respeito ao mito de o jazz ser uma música superior. Isso tem a ver, eu penso, com a forma com que as pessoas mais cultas se apropriaram do estilo, tornando o jazz uma coisa elitista, exclusiva das mentes sofisticadas que sabem apreciar a boa música fumando um bom charuto e bebendo um conhaque caro. Talvez pelo alto preço dos discos (na época não existia o mp3), consumir jazz era mesmo uma coisa para quem tinha dinheiro sobrando no bolso. E isso, talvez, tenha afastado as pessoas mais novas. Mas, de qualquer forma, essa idéia de música superior é uma besteira. Não existe isso. Quem define essa qualidade é o ouvido do freguês, que pode detestar “Giant Steps”, de John Coltrane, e adorar a batida simples de Bo Diddley.

No momento que entendi isso, perdi 90% do medo que tinha e pude focar nas coisas que achava realmente interessantes: a sincronia entre baixo, bateria e piano; o som e o improviso dos sopros; a dinâmica dos arranjos e, principalmente, o BLUES que corre nas veias de cada uma dessas composições (desculpem a vibração :) ).

Talvez o único pré-requisito para entender o jazz seja uma boa noção de sua cronologia. Besteira! Na verdade, isso seria apenas um facilitador. Não é imprescindível, apenas ajuda a montar o labirinto na cabeça. Mas isso vale para qualquer estilo, não? Quando entendemos que o reggae veio do ska, que veio do R&B norte-americano, não fica mais fácil compreender a sua batida? Eu quebro a cabeça para entender a cronologia do punk rock, para entender a ponte que existe entre o Gang of Four e o Franz Ferdinand, por exemplo. Portanto, qualquer estilo musical que tenha um pouco mais de conteúdo, precisa de uma “estudada” mais atenta. Mas é só. Depois disso, cada um caminha com as suas próprias pernas e vai atrás do que, realmente, lhe interessa. Sem medo e sem preconceito.

E é com tudo isso em mente que eu apresento o 1º jazzista desse blog: o incomparável Art Blakey. Para mim, ele representa uma corrente importantíssima no desenvolvimento da bateria. Junto com Philly Joe Jones, Max Roach e Elvin Jones, AB deu início à “modernidade percussiva jazzística”. E de todos esses, Art Blakey, além de mais velho, era, de longe, o que tinha mais swing – a sua condução era tão cheia de balanço que podia carregar a música sozinha. Além disso, AB acompanhou muito bem a evolução musical do começo dos anos 40 (que deu no Bebop), criando, com seu grupo, um estilo conhecido como Hardbop, que explodiu na metade dos anos 50.

Um fator importante na arte de Art Blakey (sem trocadilhos) era a sua capacidade de juntar ótimos músicos em suas bandas. Já passou pelos Jazz Messengers (grupo de Horace Silver que, depois, AB assumiu a batuta) gente do calibre de Wynton e Branford Marsalis, Bobby Timmons, Lee Morgan, Benny Golson entre outros gigantes.

Diferente dos grupos de Miles Davis, os jovens que tocavam com Blakey não precisavam mostrar genialidade o tempo inteiro e tinham liberdade para desenvolver em paz os seus talentos. De uma certa forma, era como se a escola dos Jazz Messengers fosse um curso pré-vestibular para a faculdade de Miles Davis. Não sei se Wayne Shorter, por exemplo, teria feito o que fez no 2º grande quinteto de Miles se não tivesse tido o tempo para desenvolver sua composição nos anos que passou com Art Blakey.

Vamos à seleção musical de hoje (que ficou bem extensa, por sinal):
http://lomez.mypodcast.com/


“A LITTLE BUSY”
Art Blakey & The Jazz Messengers
The Witch Doctor, 1961
Isso é balanço e o resto é brincadeira! Eu considero essa uma das melhores formações da história do jazz, com Lee Morgan (t), Wayne Shorter (st), Bobby Timmons (p) e Jymie Merritt (b). Gosto muito também desse arranjo, que não deixa a peteca cair em nenhum momento. Às vezes, uma música começa com o tema fodasso, cheio de swing, mas na hora dos solos cai num clima mais tranqüilo, mais tradicional, matando (pelo menos para mim) um pouco da originalidade. Aqui, a música não tira o pé do acelerador em momento algum. Composição do super-foda Lee Morgan, um cara que era excelente compositor e instrumentista.

“THE THEME”
Art Blakey & The Jazz Messengers
Buttercorn Lady, 1966
Como AB rendia ao vivo... Destaque para a participação do então jovem pianista Keith Jarrett, um dos que passaram pelo cursinho Art Blakey para a faculdade Miles Davis. Essa música é meio despretensiosa, com um clima meio de zona, de fim ou de início de show, mas eu me amarro muito na linha dos sopros, que soam colados com a caixa de AB.

“THE DRUM THUNDER SUITE”
Art Blakey & The Jazz Messengers
Moanin', 1958
Clássico dos clássicos. Considero este disco um dos Top 10 da minha vida. Tem de tudo, é uma aula completa. Essa suíte foi composta pelo grande saxofonista Benny Golson (aquele que o Tom Hanks tenta pegar um autógrafo no filme “Terminal”) e mostra o quanto AB sabia tudo e mais um pouco de tambores. Se a formação do disco “The Witch Doctor”, mencionada acima, é uma das melhores do jazz, eu considero essa, com BG no lugar de Wayne Shorter, a melhor dos Jazz Messengers. Era como se a musicalidade de todos caminhassem para o mesmo lugar. Li esses dias o guitarrista do Toto falando sobre tempo, dizendo que existia o tempo de cada um e o tempo de um conjunto. Ela cita o Neville Brothers como exemplo de uma banda que possui a mesma noção de tempo, onde todos vão para o mesmo lugar, no mesmo momento, da mesma forma. Eu penso que essa formação dos Jazz Messengers, em termos de melodia e harmonia, estão em perfeita sincronicidade.

“SOUL FINGER”
Art Blakey & The Jazz Messengers
Soul Finger, 1965
Um ótimo exemplo do que representa musicalmente o Hardbop, com uma forte pegada de soul. Podemos ouvir os furiosos rolos de caixa de AB nessa versão. Gosto muito da dinâmica dessa execução.

“UNITED”
Art Blakey & The Jazz Messengers
Roots And Herbs, 1961
Aqui a coisa já dá um nó na cabeça. O tempo da música é em 3, correto? Mas quem é que entende o que acontece do meio para a final, logo após o solo de piano? Eu fico com dor de cabeça, mas não consigo amarrar o tempo entre o baixo, a bateria e a percussão – note que o ximbau continua tocando a mesma célula do começo da música. Independente disso, essa versão mostra o quanto Art Blakey tinha um pulso firme, o quanto dominava todas as variações de compasso.

“IT'S ONLY A PAPER MOON”
Art Blakey & The Jazz Messengers
The Big Beat, 1960
Esse disco fez muito sucesso na época e possui uma das formação clássicas dos Jazz Messengers (citada na 1ª música desse podcast). Gosto muito dessa composição e, pelo o que me lembre, nunca ouvi um arranjo lascado. E essa versão não foge à regra. O solo de Blakey também é muito legal. Na verdade, ele possuía algumas frases bem características, que apareciam sempre em seus solos. Tudo bem, já que ele nunca foi o virtuoso da bateria (como eram Max Roach, Tony Williams ou Buddy Rich).

“SAFARI”
Horace Silver
Spotlight On Drums, 1952
E por falar em balanço, aqui vai uma gravação de Blakey com um dos pianistas/compositores que eu mais gosto, Mr. Horace Silver. Todas as músicas de Silver tem um funky sensacional, pilotado pela sua mão direita. O solo de Blakey, apesar de curtíssimo, é um dos mais musicais que eu já ouvi.

“AUTUMN LEAVES”
Cannonball Adderley
Somethin' Else, 1958
Uma aula de swing. Repare como o andamento não se altera (com exceção do final). Art Blakey sai da baqueta para a vassourinha e volta para as baquetas sem pressa, sem perder o balanço por mais de 9’. E esse andamento não é um dos mais fáceis – é daqueles se a bateria ficar um milésimo de segundo para trás mata a música, e se correr um centésimo, perde todo o balanço. Essa formação, com Miles Davis e o fabuloso pianista Hank Jones (irmão do baterista Elvin Jones) é sensacional. Cannonball ficou muito famoso depois disso, (meses depois, gravou o clássico “Kind of Blue”, com Miles), mas se eu tivesse que escolher entre todos os seus solos sensacionais, eu escolheria este.

PS. Sobre aquela história de ter contado com a "little help from my friends" para entender um pouco sobre o jazz, não posso deixar de mencionar a família da Joana (minha ex-colega de Maskavo Roots e, na época, namorada), que, mesmo sem saber, me emprestava muitos dos seus muitos discos de jazz. Outro que muito ajudou foi o meu grande amigo Alan, que me emprestava os discos de seu cunhado (que tem uma coleção imensa). Lembro que a gente pegava um monte de discos e eu ia correndo para casa gravar, antes que o dono notasse o “empréstimo”.

“IN THE WEE SMALL HOURS OF THE MORNING”
Art Blakey & The Jazz Messengers
Caravan, 1964
Outro disco muito famoso dos Jazz Messengers. Gosto muito dessa versão com o trombone. A música, de novo, é um standard e ficou muito bem arranjada. Aliás, umas das contas usadas para medir a capacidade criativa do jazzista (além da composição, é claro) é a sua capacidade de interpretar os standards. Aqui, AB cria uma batida bem interessante, cheia de clima e de partes sutis.

“MOANIN'”
Art Blakey & The Jazz Messengers
Moanin', 1958
Essa música talvez seja o maior hit do grupo de Art Blakey. Adoro o compositor, o pianista Bobby Timmons. Quase todas as suas músicas têm esse pegada forte de blues, de soul. Uma coisa que sempre me admira (e eu já devo ter ouvido esse disco umas 1000 vezes) e a forma como o piano e o sopro vão se alternando no tema. Os solos de Lee Morgan (tp) e de Bobby Timmons também são sensacionais. E a batida de Art Blakey, que mais lembra um R&B clássico, empurra a música na medida certa. E como diria o pião, ainda tem um plus a mais: a Geórgia, minha mulher, me deu de aniversário uma versão remasterizada desse disco, que tem o melhor som que já ouvi na vida.

Era isso.
abs
Txotxa

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Keith Moon (1946 - 1978)


Existem malucos e malucos. O termo, nos dois casos, não tem relação alguma com o movimento hippie ou com a forma com que os playboys se cumprimentam. Maluco, aqui, beira a demência patológica.

Dividindo a carga do conceito, o 1º grupo seria composto por aqueles que entram e saem de manicômios, que passam a maior parte do tempo sedados e que, por um infortúnio genético, nasceram com a fiação trocada.

Já os malucos do 2º time, o mais perigoso, são aqueles que, por abusos químicos diversos, viraram na esquina da insanidade e não conseguiram mais retornar. Nesse time está gente como Jim Gordon (fabuloso baterista que, cumprindo ordens do Diabo, matou a mãe a marteladas), Jonh Bonham (que mijava nas calças e mandava o roadie trocar com ele de lugar no avião) e Keith Moon (certamente, o pior de todos), que já entrou com um tanque de guerra em uma festa, já colocou bombas dentro do bumbo sem avisar os colegas de banda a hora da explosão, já tirou a roupa inteira num programa de TV, entre outras demências.

Mas assim como os outros dois colegas, KM era um fenômeno atrás da bateria. Seu toque era leve e rápido (talvez o mais rápido de sua geração). Suas viradas até hoje são dificílimas e poucos conseguem tocá-las do jeito correto. Pq existe, eu acredito, um jeito certo de se tocar a bateria de KM. Não dá para acompanhar as músicas do The Who pensando num ritmo definido, numa batida que tenha balanço. As músicas deles que têm um certo swing são fruto muito mais do baixo e da guitarra (mais até do violão). Pq a bateria é caótica, cheia de tambores e pratos o tempo inteiro (ele raramente usava o ximbau para conduzir o ritmo).

Mas isso não representa nenhum demérito em relação às qualidades de KM. Mostra apenas que o excesso, característica mais marcante em sua vida pública, é também responsável pela sua distinção musical. E é esse excesso musical que impede caras geniais como Simon Philipps, Kenney Jones e Zak Starkey (todos ex-bateristas do The Who) a repetirem as batidas de Keith Moon.

Vamos a elas:

THE OX
The Who Sings My Generation, 1965

Keith Moon mostra que não veio para brincadeira. Toca o tempo inteiro, numa versão que poderia ser escrita para uma pequena orquestra de percussão. Me admira a intensidade que ele mantém por quase 4’, sem dar descanso às peles. Sinceramente, acho que, até hoje, pouquíssimas pessoas teriam a idéia de tocar essa música dessa forma.
Vou até sugerir para o meu querido amigo Gabriel Coaracy, baterista dos Bois de Gerião, que pense num arranjo dessa música para o seu grupo de percussão erudita. Dá para usar tudo, marimba, tímpanos, xilofone, rontontons, pratos etc.

GOING MOBILE
Who's Next, 1971

Por favor, alguém poderia me explicar a virada que ele faz logo após a 1ª frase de Pete Townshead? Coisa de doido. Nesse tipo de arranjo, com violão, KM deita e rola. Essa música, aliás, é um bom exemplo de como o balanço da banda vinha de PT e, às vezes de Roger Entwistle. Keith Moon tinha outras preocupações. De novo, uma forma de tocar a bateria que alguém dificilmente pensaria. Note como ela pára, vai e volta, mas sem nunca perder a adrenalina.

I'M THE FACE
Odds And Sods, 1974
Como toda regra tem exceção, aqui KM se concentra no balanço, colado no baixo. É impressionante o quanto o The Who era uma banda foda, com domínio total da linguagem do rock. Esses dias, estava assistindo com o Carlos, do Prot(o), um ensaio do The Who (no YouTube, claro), onde eles, de zona, tocavam “Barbara Ann”, dos Beach Boys. E mesmo de zona, eles não conseguiam fazer feio.
Para quem quiser conferir, aqui vai o link do vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=4d6mj7PG9qA&mode=related&search=

SHAKIN' ALL OVER
Live At Leeds, 1970

Um dos melhores discos ao vivo do pedaço. Não quero dar uma de saudosista (até pq nem tenho idade para isso), mas acho que nos 60 e 70 as bandas eram musicalmente (não artisticamente) melhores que as de hoje. Como as coisas funcionavam na marra, o cara tinha que fazer muito bem o dever de casa. E isso se reflete, ao meu ver, na qualidade dos discos ao vivo gravados nessas décadas (especialmente nos anos 70). Olhe só: “Wings Over America”, “Frampton Comes Alive”, “Get Yer Ya-Ya's Out!”, “Before The Flood”, independente do gosto do freguês, são discos extremamente bem tocados, com dinâmica de banda, com musicalidade de sobra. E hoje, não vejo discos assim. Vc tem um que é legal pela energia, outro pela interação com o público, outro pela qualidade de captação, mas não ouço um para deixar o queixo caído.
Bom, isso tudo para dizer que, dentre todos esses fodassos, o “Live At Leeds” se sobressai na minha lista.

LET'S SEE ACTION
Single, 1971
De novo o violão amarrando som. Adoro o balanço dessa música. A batida de KM chega a ser meio desleixada, mas sem atrapalhar o arranjo. Note como ele carrega a música no ximbau sem pressa, sem tocar todas as notas do compasso. Muito legal também é ver o quanto ele reage rapidamente às partes dos seus colegas – no solo de guitarra, ele vai marcando as partes com o prato. De novo, qualquer outro baterista sem os temperos de KM deixaria a música insossa. Saudável, mas insossa.

I'M FREE
Tommy, 1969
Um ótimo exemplo de batidas que nos derrubam da cadeira. Quando o riff começa, nós já vamos batendo o pé num tempo, até que chega a bateria e arrasa com qualquer chance de bater palma. No final, a bateria resolve “fazer as pazes” com os outros colegas. Música foda de um disco foda.

WHO ARE YOU
Who Are You, 1978
Aqui já ouvimos KM no final da vida (uma pena). Acho essa bateria uma das mais arrasadoras que ele já gravou, tanto pelo som quanto pelas notas. E para “piorar” a vida dos bateristas, ele ainda toca por cima de uma base eletrônica (com as palminhas) como se não fosse nada demais. Dessa época, aliás, eu me amarro no visual dele tocando com um fone de cabo de telefone. Simon Philipps já gravou essa música com o Who, mas não conseguiu acertar os espaços do jeito correto, do jeito KM.

YOUNG MAN BLUES
Live At Leeds, 1970
Quando falei acima das viradas ultra-rápidas de KM, eu me referia especialmente a essa música. Dá gosto de ouvir uma formação tão coesa quanto essa. Realmente (e infelizmente) só de décadas em décadas surge uma banda assim.

BABY DON'T YOU DO IT
Who's Next, 1971
Ouvi essa música pela primeira vez com o The Band. Achei bem legal, mas depois de ouvir a versão do Who, pude entender o que o termo “incendiar” representa musicalmente. A bateria de KM dá show e carrega a música inteira nas costas. Esse disco, aliás, é um dos Top 10 de qualquer discoteca de rock.

SQUEEZE BOX
The Who By Numbers, 1975
Esse eu escolhi muito mais por uma boa lembrança do que pela bateria. Quer dizer, KM toca muitíssimo bem (como sempre), mas o que me alegra nessa música é lembrar do Spigazul, grupo que tive a honra de participar. Lembro de um ensaio que fizemos (eu, Gagui e Futrica) com o Fitinha (o vocalista), depois de uns 5 anos sem tocarmos juntos, e tocamos essa música. Foi impressionante o quanto essa música soou bem (e ainda soa na minha memória).

Podcast: http://lomez.mypodcast.com/


Era isso.
abs
Txotxa

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Coletânea, Vol. 2

Como as respostas para a postagem anterior foram legais, resolvi seguir no caminho das coletâneas. Vamos lá...

Podcast: http://lomez.mypodcast.com/


KENNEY JONES
Borstal Boys
FACES – OOH LA LA, 1973
Taí um cara que deveria estar em qualquer lista dos 10 melhores bateristas de rock de todos os tempos. Não bastasse ser sócio-fundador do importante Small Faces e, depois, do Faces, KJ foi escolhido para substituir ninguém menos do que Keith Moon nas baquetas do Who. Aliás, o Faces é uma banda que merecia muito mais destaque. Durou pouco, mas deixou discos sensacionais. Voltando ao KJ, ele consegue fazer (com o pé nas costas) o que considero ser o sonho de qualquer baterista de rock: ter técnica de sobra e, ainda assim, respeitar as características tradicionais do estilo. Ouça essa música e repare na forma que ele carrega a música nos tambores.

PS. 1 – Quando assisti ao filme “25 x 5”, sobre os Rolling Stones, lembro do Ron Wood contar que ficou preocupado em largar os Faces para ingressar nos Rolling Stones. Na época eu pensei: “Que cara louco! Que dúvida ele poderia ter?”. Hoje, eu entendo perfeitamente, já que, na época, os Rolling Stones eram, na minha humilde opinião, inferiores aos caras (desculpem o trocadilho).



WILLIE "WILD" SPARKS
Got To Go Through It To Get To It
GRAHAM CENTRAL STATION – RELEASE YOURSELF, 1974
Vamos considerar o funk (ou funky) como uma forma de tocar, e não como um estilo musical. E que o funk presente em cada músico seja algo mensurável, assim como os “midichlorians” no sangue dos Jedis :-). Seguindo esse analogia, podemos afirmar que, quando o assunto é funk, Larry Graham é mais poderoso do que Yoda, Anakim e Palpatine juntos. Não só como baixista, mas como cantor e multiinstrumentista. E a sua banda, montada após os anos na escola Sly Stone, é uma das mais avassaladoras que já existiram. Ouçam a bateria de Willie Sparks e notem como ela é diferente – ela puxa a música pára trás, enquanto o baixo empurra o ritmo como uma locomotiva. E que arranjo, hein?




PHILIP "FISH" FISHER
Unyeilding Conditioning

FISHBONE – GIVE A MONKEY A BRAIN...,1993
Descobri ontem que ele gravou o 1º disco do Fishbone com 14 anos!!! Parece coisa do demo alguém tocar daquele jeito com tão pouca idade. Vai entender... O fato é que nessa gravação, oito anos mais velha, “Fish” Fisher dá o gabarito do que é tocar ska de um jeito moderno. Notem como ele toca o tempo inteiro, com muitas notas, mas não sobrecarrega o arranjo em nenhum momento. Poucos caras são capazes de sair de uma batida dessas para um hardcore, passando para um funk, sem perder o rebolado.




JOHN DENSMORE
Peace Frog
THE DOORS – MORRISON HOTEL, 1970
Descobri essa música assistindo a série “Entourage”, na HBO. Conhecia esse disco apenas pelo superhit “Roadhouse Blues”, pois, na minha infinita preguiça, nunca havia me dado o trabalho de correr a agulha algumas faixas adiante. John Densmore é um baterista fora de série. Toca leve, tem técnica de jazzista e mantém firmemente o compasso. É uma pena que a “mística” em torno de Jim Morrison tenha, em parte, soterrado as verdadeiras qualidades musicais do grupo (dele inclusive).





ROGER POPE
Your Starter for...

ELTON JOHN – BLUE MOVES, 1976
Esse cara tocou com o Elton John em várias gravações e turnês. Até a chegada de Nigel Olsson, ele era o cara que segurava as baquetas para EJ (sem piadinhas, por favor). Gosto muito do som dessa bateria (principalmente do ximbau). Essa música mostra bem o quanto EJ era um compositor virtuoso. E acompanhar esse arranjo com uma bateria tão macia é mesmo para poucos.




CHRIS FRANTZ
Thank You For Sending Me An Angel

TALKING HEADS – MORE SONGS ABOUT BUILDINGS AND FOOD, 1978
Casamento é uma coisa difícil. Tocar numa banda durantes décadas, tão difícil quanto. E quando alguém resolve juntar as duas coisas? CF, casado com a baixista do Talking Heads, não só mostrou como é possível essa relação, como ainda colheu belos frutos no âmbito musical. A cozinha do TH não é composta de virtuosos, mas funciona que é uma beleza. Nessa música, podemos perceber o quanto baixo e bateria trabalham bem, tocando simples, mas com muita pressão. Adoro essa bateria, meio marcial e muito precisa, que já começa com o pé no acelerador. Grande música de um grande disco de uma grande banda!


CLYDE STUBBLEFIELD
I Got The Feelin'
JAMES BROWN – SINGLE, 1968
Ele é conhecido como o baterista mais sampleado da história. Eu acredito, já que a virada de “Funkin’ Drummer” virou padrão nas entrada dos hip-hops dos anos 80. E essa bateria mostra bem como CS conseguia colocar nas baquetas as idéias de James Brown. Aliás, essa é até uma coisa interessante de se pensar: qual a real contribuição do baterista quando a idéia da batida surge na cabeça do vocalista (que, no caso, também era baterista)? De qualquer forma, o simples fato de alguém conseguir executar (com tanta categoria) uma coisa tão complicada (para época) é motivo de admiração.

PS. 3 – Quem quiser ouvir essa música numa versão diferente, é só alugar “48 Horas, parte 2” e curtir o Eddie Murhpy cantando no ônibus, saindo da prisão. Sensacional...




STEPHEN MORIS
Age of Consent

NEW ORDER – POWER, CORRUPTION & LIES, 1983
Desde a época do Joy Division, a onda de Stephen Morris era outra. Ele tocava dum jeito diferente, durão, como se tivesse aprendido a bateria na marra (talvez tenha sido assim, mesmo). Mas numa banda onde o baixo é tão agudo quanto a guitarra, não poderíamos esperar um baterista tradicional, né? O fato é que SM e suas batidas diferentes casam muito bem nas composições. Particularmente, no caso do New Order, prefiro as batidas tocadas por ele, ao invés das programadas.

PS. 4 – Eu considero aquela cena do filme “24 Hour Party People”, em que o Stephen Morris fica tocando em cima do telhado, sozinho, depois de todos terem saído do estúdio de gravação, uma das mais engraçadas que já vi.

PS. 5 – Seguindo a dica do meu amigo Elcio Jr, vou disponibilizar, sempre que possível um vídeo que tenha a ver com o post. Por isso, aqui vai o New Order, em 1984, tocando essa música no estúdio.

http://www.youtube.com/watch?v=0VcGJZpfl1c&mode=related&search=



TERRY BOZZIO
Wind Up Workin' In A Gas Station
FRANK ZAPPA – ZOOT ALLURES, 1976
Simplesmente o melhor baterista que passou pelas dezenas de formações do grupo de Frank Zappa. Na minha opinião, Terry Bozzio foi o que mais se integrou aos conceitos de FZ. E a admiração do patrão por TB era tamanha que ele escreveu um solo de bateria só para ele. A peça se chama “The Black Page”, tamanha era a quantidade de notas na partitura. Além disso, TB era muito musical (cantava bem para burro) e sabia dosar muitíssimo a sua tremenda técnica com um feeling impecável. Escolhi essa música por dois motivos: 1º, está num disco que adoro; 2º, tinha a duração adequada para o podcast. Além disso, é muitíssimo bem tocada. Reparem como a bateria passa pelas partes complicadas sem nunca perder a pressão.


JOHN GUERIN
Free Man in Paris
JONI MITCHEL – COURT AND SPARK, 1974
Tocar bateria numa banda que tem violão (e que não seja MPB!) é sempre uma benção. Pq o violão amarra o som de tal forma, que a bateria fica mais livre, além de não precisar meter a mão (já que os volumes normalmente são mais baixos). E essa versão é bem o caso. A bateria toca por cima de todo mundo, bem suave, mas cheia de balanço. A classe de JG (famoso músico de estúdio nos anos 70) é imensa, e ele segue todas as “curvas” de compasso do arranjo sem se chocar com nenhum instrumento. Swing de sobra num arranjo bem sofisticado. O que não é novidade, já que JM não contratava vagabundo para a sua banda.


JAMES STROUD
Groove Me
KING FLOYD – SINGLE, 1970
Confesso que nunca ouvi falar de James Stroud na vida. Por isso fui atrás de alguma informação que me ajudasse a entender a admiração incondicional que tenho por essa gravação. No final, descobri que ele era um músico de estúdio e que hoje é um produtor de sucesso em Nashville. Não ajudou muito, né? De qualquer forma, adoro a “aparente” simplicidade com que essa música é tocada. Digo “aparente” pq não é nada simples manter essa batida o tempo inteiro, sem atropelar, sem invadir o espaço dos outros instrumentos (e essa música é toda dividida). O baixo e a voz talvez sejam as coisas mais fodas da música, mas essa bateria sempre foi, para mim, referência de groove (ê trocadilho safado...).


AL JACKSON, JR
Shake
OTIS REDDING – OTIS BLUE: OTIS REDDING SINGS THE SOUL, 1965
Deixei o mais foda dos fodas para o final. Quando assunto é soul, ninguém, mas ninguém mesmo, chega perto de Al Jackson Jr. Ele foi o baterista oficial da Stax nas décadas em que o selo era sinônimo de soul e rivalizava com a Motown. AJ era o baterista do Booker T. & The MG‘s, sensacional grupo que acompanhava, ao vivo e no estúdio, o lendário Otis Redding. “Shake” é um dos clássicos do também legendário Sam Cooke, mas OR, com a ajuda providencial de Al Jackson Jr, dá nova cara à música, transformando-a em uma de suas composições. Notem como AJ tem o controle total do arranjo e vai regendo as passagens de trás da bateria, empurrando a batida, sem perder um centímetro do balanço.

Era isso.
abs
Txotxa

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Coletânea, Vol. 1

Parece preguiça (não é, juro), mas eu resolvi misturar alguns bateristas numa mesma postagem. São caras que eu não sei se conseguiria escrever separadamente sobre cada um. Por isso, montei um podcast com um time de 1ª.
Espero que gostem...

Podcast: http://lomez.mypodcast.com/

JAMES GADSON
Use Me
BILL WITHERS – STILL BILL, 1972
JG é um dos bateristas com mais horas de gravações (e sucessos) no currículo. Tocou com muita gente da pesada, mas sempre manteve o clima leve nas suas batidas. Leve, mas não frouxo ou mole. Essa música é um ótimo exemplo de como sabia (e ainda sabe) manter uma cadência e dividir a batida. Já ouvi outras gravações para essa música (uma até do Mick Jagger), mas ninguém chega perto dessa levada, com apenas caixa, bumbo e ximbau. Essa é a prova de que as máquinas nunca vão chegar perto dos grandes perto dos bateristas.




BILL BRUFORD
America (Single Version)
YES – SINGLE, 1971
Sempre achei o BB meio mala. Em várias vezes já o vi reclamando de música alta, de música muito fácil, de músico que não estuda. De qualquer forma, a sua bateria não tem nada de chata. Ele é um cara que entende muito de dinâmica e de espaços. Tocou nos grandes grupos de rock progressivo e mantém a sua própria banda a todo vapor. Nessa gravação (aliás, em todas que ele fez com o Yes) eu adoro o som da bateria. É uma das melhores versões que eu já ouvi das músicas de Simon & Garfunkel (apesar do clima percussivo no final).


BILLY FICCA
See No Evil

TELEVISION – MARQUEE MOON, 1977
Não entendo como esse cara pôde passar tão despercebido (pelo menos no meu universo). Acho que nunca ouvi ninguém falar da bateria desse disco. É claro que as guitarras chamam muito a atenção, mas a jeito que BF toca é muito sofisticado para a época. Ele tem técnica e swing suficientes para colocar qualquer um de sua geração no bolso. E essa música, além de muito foda, consegue mostrar bem a arte de BF: cadência, bom gosto na composição, excelente uso do ximbau dos pratos.

PRINCE
Soft And Wet
PRINCE – FOR YOU, 1978
Esse aí é um fenômeno. Miles Davis disse que sabia, sempre, quando o baterista era Prince ou um outro músico. Eu até me arrisco em alguns palpites, tamanho é o seu estilo como baterista. Note como a bateria toca simples, mas sempre no espaço certo do compasso. E a forma como ela e as palmas se completam é impressionantemente bem pensada (e executada).


DAVID GARIBALDI
Down To The Nightclub
TOWER OF POWER – BUMP CITY, 1972
O TOP é uma das bandas mais precisas que eu já ouvi. E essa bateria é uma aula de como não se deixar sobras no som. Cada nota (são tantas) de sua batida é tão bem estruturada que consegue amarrar todo o arranjo (são tão complicados). É como se DG acompanhasse todos os instrumentos de uma só vez, não apenas o baixo, independente da dificuldade implicada nesse processo. Sempre que penso em tocar uma batida mais intrínseca (mas sem perder o feeling) tento, sem sucesso, imitar Mr. Garibaldi.


FABRIZIO MORETTI
You Only Live Once
THE STROKES – FIRST IMPRESSIONS OF EARTH, 2005
Confesso que não sou especialista no som dos Strokes, muito menos na batida de FM. Mas quando ouvi esse disco, e essa música abre o disco, fiquei de cara. A levada que ele faz com a mão direita (e que som maneiro) é sensacional. E isso fica claro quando ele passa para o ximbau, soltando a batida. Isso é arranjo foda e o resto é brincadeira. Curiosidade: alguém aí também acha a intro dessa música igual a intro de “I Want To Break Free”, do Queen?


ALAN WHITE
How?
JOHN LENNON – IMAGINE, 1971
Já que incluí o Bill Bruford nessa lista, não quis deixar de fora o Alan White (que sempre me pareceu mais legal que seu antecessor no Yes). Não só por isso, mas pelas tremendas qualidades que tem como baterista. Poucos caras na história passaram pelo seu batismo de fogo: tocar num show, sem ensaio, com John Lennon e Eric Clapton. Causou tão boa impressão que acabou participando de alguns discos de JLennon. Entre todas essas gravações, gosto muito dessa. A forma com que a bateria toca e deixa os espaços é dificílima de se executar. O arranjo dessa música é complicado, mas AW, na minha opinião, se sai muitíssimo bem.


STEVE FERRONE
You Don't Know How it Feels
TOM PETTY – WILDFLOWERS, 1994
Essa música é uma aula de bateria. Steve Ferrone toca a mesma célula (com apenas uma alteração de nada) durante os quase 5’ de gravação. Já vi SF tocando com o Duran Duran (no Brasil), com o Eric Clapton (em Brasília), mas eu acho que esse esquema com o Tom Petty funcionou muito melhor. Outra coisa legal é o fato de SF usar apenas ximbau, bumbo e caixa nessa música e, ainda assim, consegue dar toda a dinâmica que a música necessita.


ROGER HAWKINS
The Weight
ARETHA FRANKLIN – THIS GIRL'S IN LOVE WITH YOU, 1970
Esse é tão foda quanto esquecido. Quer dizer, algumas pessoas ainda lembram que era ele a máquina propulsora dos Muscle Shoals (estúdio no sul dos EUA que ajudou a definir o som de Aretha Franklin, Wilson Pickett, Paul Simon entre muitos outros), mas não vejo RH ser devidamente homenageado pelos músicos de hoje. Note o balanço da bateria, veja como ela empurra a música e, ainda, consegue manter-se em seu lugar. Detalhe: nessa versão para o clássico do The Band, quem toca o slide é ninguém menos do que Duanne Allman.


NATHAN FOLLOWILL
King Of The Rodeo
KINGS OF LEON – AHA SHAKE HEARTBREAK, 2004
Essa banda é bem foda. Só fui conhecê-la com atraso, na época em que vieram ao Brasil. Uma coisa engraçada a respeito desse baterista é que ele não chama muito a atenção nem pelo som (que soa pequeno nas gravações) e nem pelo visual (usa um set limpo, econômico). Mas é só prestar atenção (de verdade) na batida para notar o quanto ele é um músico ligado. Mesmo numa banda que tem um clima meio “largado”, a bateria de NF é muito bem dividida e ajuda bastante os arranjos dos irmãos.


OMAR HAKIM
Corner Pocket
WEATHER REPORT – SPORTIN' LIFE, 1984
Omar Hakim foi um dos meus primeiros heróis da bateria. Até hoje eu o considero fodasso. Essa música resume bem todas as suas qualidades: ritmo impecável, dinâmica no lugar certo e um balanço livre-leve-e-solto. O tempo em que ele tocou com o Weather Report (até o Sting comprar o seu passe) representa, para mim, uma das 3 melhores formações do grupo. Gosto muito desse disco, apesar dos fãs da fase mais jazz do grupo desconsiderarem completamente o álbum. Detalhe para a participação de Bobby McFerrin no comecinho da música.


Era isso.
abs
Txotxa

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Joey Kramer


Quando fui estudar (pelo tempo recorde de 15 dias!) na prestigiosa Berklee College of Music, em Boston, lembro nitidamente de um painel com as fotos dos famosos ex-alunos da faculdade. A maioria das imagens era do pessoal de jazz, e alguns gatos pingados do R&B norte-americano. Do rock, apenas duas fotos: Muzz Skillings e Will Calhoun (ambos do Living Colour) e Joey Kramer (com um cabelo horroroso de mola de isqueiro).

Os dois primeiros eu até entendi, porque o Living Colour tinha uma pegada meio de virtuose, com muitas partes e tal. Agora, que diabos o baterista do Aerosmith poderia ter aprendido lá?
Até hoje não tenho resposta. Porque, com raríssimas exceções, os bateristas saem de Berklee com o mesmo “sotaque”, com uma pegada que não ajuda muito no universo rock’n’roll.

Vai ver a Berklee faz como o Colégio Objetivo: basta pedir informações na escola que você se torna automaticamente um ex-aluno. Não sei...
O fato é que isso deixou uma pulga atrás da minha orelha em relação ao Joey Kramer.

Quando o Aerosmith bombou de vez no Brasil, nos anos 90, comecei a prestar atenção nas baterias de JK. Mesmo naquelas baladas melosas, dava para perceber uma pegada firme e 100% dentro do ritmo. Fui atrás das coisas mais antigas do grupo, da época em que eles viviam on the edge (perdoem o trocadilho), e batida estava lá – sempre com pressão, sempre no lugar certo do compasso.

Joey Kramner consegue manter uma precisão acadêmica sem perder um milímetro de pura inspiração e influência rock’n’roll. Nas suas gravações, vc não encontra uma nota fora do tempo, nenhuma batida mais fraca que a outra, nenhuma sobra de prato ou de virada.
E como essa perfeição é tão incomum no universo musical, JK resolveu gravar algumas de suas batidas mais conhecidas, além de outras mais novas, e disponibilizou para venda o “Joey Kramer Drum Loops and Samples”.
Hoje, portanto, bastam U$ 50.00 para qualquer um ter JK no seu disco.

Para os que defendem a tese de que o Aerosmith não passa de um mistura lascada de Led Zeppelin com Rolling Stones (e essa idéia, em muitos momentos, até que procede), só peço que poupem o pequeno-grande Joey Kramer, porque ele, mesmo tendo um pouco de Charlie Watts e John Bonham, de lascado não tem nada :-)

Ah, dizem os livros que a idéia do nome da banda partiu de JK.

Vamos ao podcast, que hoje é dedicado aos irmãos Philippe e Alex Seabra, profundos conhecedores do melhor hard rock produzido nos anos 70 e 80.

Podcast: http://lomez.mypodcast.com/

SIGHT FOR SORE EYES
Draw The Line, 1977

“4 on the floor”. De novo, o termo aparece nesse blog. Aqui JK dá o gabarito da batida. Gosto do muito do som dessa bateria – aqui ele ainda não tinha optado pelos tons mais curtos. Legal também é a forma com que ele toca o ximbau. 100% de balanço.

LAST CHILD
Rocks, 1976

Para muita gente, o melhor disco do Aerosmith. Adoro o delay dessa bateria. JK amarra a música (no melhor sentido) e não deixa ninguém sair de perto do tempo. Das coisas que eu já ouvi do grupo, eu acho essa umas gravações mais bem feitas – as guitarras e as vozes são excelentes.

SWEET EMOTION
Toys In The Attic, 1975

Para mim, umas das melhores linhas de baixo de todos os tempos. A cozinha de JK e Tom Hamilton mostra porque é considerada uma das mais consistentes na história do rock. Outro detalhe importante que muitos se esquecem é que os dois reinam absolutos na categoria Seção Rítmica com o Cabelo mais Escroto, barrando todo o pessoal da Motown, todos os baixistas que passaram pela banda de James Brown (Bootsie, especialmente) e todos os bateristas brancos que encarnaram um permanente no fim dos anos 60.

NEVER LOVED A GIRL
Honkin' On Bobo, 2004
Versão moderna para o sucesso de Aretha Franklin. Escolhi essa por causa da forma com que JK toca o R&B. Ele mete a porrada, mas não esquece a essência de se tocar o blues em 3 tempos...

TOYS IN THE ATTIC
Toys In The Attic, 1975
Começa com o pé no acelerador e não pára mais. JK vai acentuando as passagens com a inflexão certa. Um dos clichês do rock é quando o baterista toca no prato de condução na hora do solo da guitarra, certo? Mesmo assim, são poucos que conseguem fazer essa transição sem derrubar a música. Ouça e veja como é que deve ser feita a passagem.

GIRL KEEPS COMING APART
Permanent Vacation, 1987

Uma versão mais moderna do que já foi o clássico R&B norte-americano. As guitarras (com exceção do solo) e a bateria tocam na melhor tradição Soul. Muito legal também é o arranjo de sopros.

MOTHER POPCORN
Live Bootleg, 1978
E por falar em tradição, nada melhor do que essa versão para o mega-sucesso de James Brown. Aqui, JK passeia por uma das batidas mais tradicionais e difíceis do cancioneiro Funky. Sem desmerecer os restante dos músicos (Joe Perry é mesmo um excelente guitarrista), a música funcionaria muito bem apenas com o sax convidado e com as baquetas de JK.

MAMA KIN
Aerosmith, 1973
Do 1º disco. Gosto dessa bateria pela qualidade técnica da execução e da gravação: podemos ouvir todas as nuances da batida. JK comanda muito bem as passagens e não faz corpo mole em acentuar TODAS as passagens da melodia. Normalmente, esse tipo de approach pode tornar a bateria busy (desculpem, não encontrei o português que se encaixasse melhor), mas JK toca no limite certo.

LOVE IN AN ELEVATOR
Pump, 1989
Apesar do clipe dessa música ser bem farofa, a bateria de JK é seriíssima e trabalha de uma forma que poderia causar ciúmes em John Bonham. Note como, nas estrofes, JK toca bem simples, de forma bem espaçada. Só quem tem o tempo muito acertado na cabeça, nos pés e nas mãos pode fazer isso sem atrasar ou atropelar a batida. Impressionante também é como ele muda o groove (não queria usar essa palavra, mas...) no bridge. Como diria o finado Carlos Imperial: “Bateria – 10, nota 10!”.

JIG IS UP
Rock In A Hard Place, 1982
Esse disco é bem renegado pelo fato de não contar com os dois guitarristas originais (Brad Whitford e Joe Perry). Mas JK toca, como sempre, muito bem. Essa música é um bom exemplo de como ele deixa o tempo assentar, mas sem nunca atrasar a batida.

WALK THIS WAY
Toys In The Attic, 1975
Clássico dos clássicos. Essa música está presente em todas as listas de grandes baterias do rock. Sua introdução poderia (e deveria) servir de teste para qualquer um queira se considerar baterista.


Era isso.
abs
Txotxa