quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Bill Ward


Em 1º lugar, queria me desculpar pelo atraso nas postagens. Peguei umas semanas de férias e deixei de lado o blog.
Vamos lá....

Nunca fui metaleiro, confesso. Já tive a minha fase de gostar de Iron Maiden (aliás, Nicko McBrain foi o 1º baterista que eu vi num vídeo), mas nunca deixei o cabelo crescer, nunca usei tênis cano alto, jaqueta de couro e calça jeans e nunca “bati cabeça”.
Por isso, bandas como Dio, Judas Priest, Accept, Saxon, Megadeth ou Metallica nunca prenderam muito a minha atenção. E com o Black Sabbath não foi diferente. Mesmo gostando muito de Led Zeppelin e Deep Purple, nunca me esforcei para conhecer melhor a última perna da Santa Trindade do Hard Rock Proto-Heavy Metal.

Só fui começar a acompanhar o BS mais de perto quando o excelente Mike Bordin (ex-baterista do Faith No More) começou a tocar com o Ozzy Osbourne.
Numa de suas entrevistas, MB, elogiava horrores as músicas do BS e o quanto ele sempre soube todas as batidas de cor.
Fiquei intrigado, pois, até então, não conseguia fazer uma ponte entre o som do BS e o do Faith No More.

Hoje, já consigo visualizar essa ponte entre o Black Sabbath e centenas de outras bandas. Mas uma coisa que ainda me parece pouco explorada (ou divulgada, não sei) é a tremenda contribuição do baterista Bill Ward para tornar o som do BS ainda mais único.

Quando vc junta num mesmo grupo um guitarrista como Tommy Iommi (talvez o criador do riffs mais potentes da história), Ozzy Osbourne (o cantor da voz mais esganiçada e metálica que eu já ouvi) e Geezer Butler (um baixista com predileção por notas agudas e letras satânicas), a maioria dos bateristas corre o risco de passar despercebido. Mas Bill Ward é tão singular quanto os seus colegas.

A bateria de BW é rápida, com, afinação bem aberta e cheia de notas. Numa música como “Iron Man”, por exemplo, a tendência natural seria fazer uma batida carregada, puxando para trás, mas ele acelera as partes, não deixando a música sossegar. Esse estilo leve e rasteiro de tocar fica mais claro quando comparamos essa música com a versão de Ozzy (no seu disco solo ao vivo, com o ótimo baterista Tommy Albridge), ou com a versão do próprio Black Sabbath, com Vinnie Appice nas baquetas.

De uma certa forma, é como se a bateria de BW não casasse 100% com o que os outros tocam (especialmente nos primeiros álbuns). Ela fica sempre num lugar separado da música, indo e voltando, ora empurrando a música, ora planando sobre a base de titânio de Iommi e Butler. Pelo menos é a impressão que eu tenho.

Bom, a partir da seleção musical abaixo, espero explicar as coisas que eu descobri e que me fizeram gostar da bateria em Bill Ward.

Podcast: http://lomez.mypodcast.com/


THE WIZARD
Black Sabbath, 1970
Acho que BW ocupa muito bem os espaços da introdução e nas primeiras estrofes. É muito difícil conseguir tocar muito nos intervalos da voz sem atrapalhar a melodia. BW consegue fazer isso muito bem, além de criar um certo balanço. Nessa música dá para ver bem a diferença entre BW e os colegas Ian Paice e John Bonhan. Estes certamente possuíam muito mais técnica que ele, mas eu acho que BW compensa isso com muita musicalidade e, principalmente, com muita liberdade na bateria.

NEVER SAY DIE
Never Say Die, 1978
Aqui BW desce o malho. Gosto muito da forma que a bateria vai acentuando todas as passagens desse rhythm’n’blues hiper-potente – dá a impressão que a música não pára de acelerar. Eu curto a liberdade dos BSs nos arranjos desse disco. E o solo de guitarra é sensacional. Simples, mas sensacional.

SUPERNAUT
Black Sabbath, Vol. 4, 1972

Riff matador. Acho muito boa a escolha de BW por uma bateria mais reta, ao invés de seguir o balanço da guitarra e do baixo. Essa música mostra bem os dois bumbos de BW, principalmente no meio, quando o clima muda da água para o vinho. Grande música de um grande disco.

WAR PIGS
Paranoid, 1971
Clássico do metal. O Prata, meu amigo de longa data, tinha esse disco, mas eu nunca ouvia essa música, porque tinha medo. De novo, BW ocupa muitíssimo bem os espaços. Curto muito as 3 partes da música, incluindo o final mega-doente.

WICKED WORLD
Black Sabbath, 1970
Música do 1º disco do BS. BW dá um clima jazz para uma música pesadíssima. Verdade que o ximbau fica devendo à tradição jazzística, mas a escolha mostra o quanto ele tinha estilo e liberdade.

SABBRA CADABRA
Sabbath Bloody Sabbath, 1973
Aqui BW ataca um shuffle de 1ª. Quando comparamos essa versão com a do Metallica, podemos ver bem como a forma leve de tocar de BW é, realmente, diferente da maioria dos bateristas pesados. A sua pegada era meio jazz, meio rock clássico dos início dos anos 60, com afinação aguda dos tambores e com frases rápidas. Lembra muito mais Mitch Mitchell do que, por exemplo, John Bonham. E o clima de jam do final é sensacional.

PARANOID
Paranoid, 1971
Essa não poderia ficar de fora. É uma bateria que, a princípio, soa um pouco preguiçosa, mas repare como o bumbo toca todas as notas do compasso. Se compararmos essa batida com a similar “Communication Breakdown”, do Led Zeppelin, dá para ver ouvir o quanto era diferente a batida de BW. No caso do LZ, a força do grupo vinha da bateria, e no BS, o peso era todo da guitarra.

BREAKOUT
Never Say Die, 1978
Gosto dessa pela categoria com que BW leva um andamento mais lento, sem atrasar ou adiantar o compasso. Além disso, é muito doida a escolha de um solo de saxofone numa música que tem Tommy Iommi.

Era isso.
abs
Txotxa