quinta-feira, 20 de março de 2008

Matt Cameron

Antes de mais nada, mil desculpas pela falta de regularidade nas postagens. É que eu estava meio enrolado com algumas mudanças aqui no trampo. E como eu escrevo 99% do texto no trabalho (aliás, como estou fazendo agora), tive que dar uma maneirada na rotina (que já não era das melhores) de atualizações. Daí a demora...
Bom, já que mencionei o trabalho, seria legal esclarecer algumas coisas a respeito dos podcasts. Sou o maior entusiasta dessa nova modalidade de comunicação. Como me ensinou o amigo Fernando Zarur (que entende tudo do riscado), a cultura do podcast vem crescendo exponencialmente em todo o mundo.
Por isso, resolvi fazer (ou pelo menos tentar) a coisa do jeito certo na última postagem – inseri os meus comentários no meio das músicas, tornando o troço mais parecido com o rádio. O problema é que isso se mostrou bastante complicado. Por exemplo, tive que fazer toda a parte sonora lá em casa (edição das músicas, gravação da voz, “mixagem”), o que acabou desvirtuando a idéia por trás desse blog/podcast, que é utilizar melhor o tempo no trabalho, ao invés de simplesmente trabalhar!
Dito isso, informo que, por enquanto, vou continuar no esquema Tabajara, com música e texto separados. My bad....

Entonces, vamos ao homenageado de hoje: MATT CAMERON.

Esse é um dos caras mais fodas que eu já ouvi na vida. Sério, se pudesse tocar um décimo do que ele toca, estaria nas nuvens. MC tem uma pegada de rock única. Consegue tocar rápido, forte e, principalmente, com balanço. Não me lembro de nenhum outro cara que toque como ele. É uma coisa engraçada até, pq ele é um baterista que vc não identifica imediatamente numa gravação. Vc fica ouvindo e pensando: “porra, esse cara aí toca”. Daí, quando vc vai aos créditos, as peças do quebra-cabeça se encaixam. “Só podia ser ele”, é o que eu sempre penso.

Para escrever esse post, fui atrás dos discos que ele gravou (e grava) com o Pearl Jam. Ele entrou na banda logo depois do Jack Irons (que é bem foda) e não deixou a peteca cair. Muito pelo contrário, aliás. Ele fez a banda tocar melhor. Muito melhor. Como nunca tocou. E, de quebra, deixou a banda ainda mais bonita (urgh!!).

E em alguns desses discos, eu ficava de orelha em pé, tentando descobrir quem era o baterista – o Jack Irons tem um toque meio parecido com o dele. Mas, de vez em quando, vinha uma passagem escrota, tocada com um controle absurdo, que só podia ter sido gravada por MC.

Todas as suas baterias, desde os tempos de Soundgarden, passando pelo seu projeto paralelo, têm a mesma característica: ocupam o lugar certo no arranjo – nem mais, nem menos – e conduzem o tempo com muita propriedade e segurança. Sem pressa, sem querer aparecer, sem fazer caretas, mas 100% dentro do grupo. É como se ele pudesse tocar qualquer coisa (e eu sinceramente acredito que ele pode), mas prefere sempre fazer parte do time.

MC é capaz de arredondar compassos de tempos difíceis, deixando-os macios ao ouvido. Pq a tendência de um baterista de rock (vamos dizer assim) é endurecer a batida de uma música nesses compassos ímpares, como 3/4, 5/4, 7/8, 9/8 etc. O
Neil Peart, por exemplo, é um desses que soa sempre quadrado nesses tempos – tudo bem, já que essa é a onda dele. Quando ouvimos uma música do Rush, percebemos sempre que é um negócio difícil, que não dá para bater palma junto.

Mas no caso de Matt Cameron, ele faz o mais difícil (na minha opinião), que é tornar fácil aos ouvidos um tempo difícil. Acho que pelos espaços que ele cria na batida, a gente fica sempre com a impressão de que aquilo é mais tranqüilo do que realmente é.

No final das contas, MC, para mim, é o único cara dessa geração que coloca os gigantes Dave Grohl e Mike Bordin no bolso. Precisa dizer mais?

Vamos à seleção de hoje:


NEVER NAMED
Soundgarden – Down on the Upside, 1996

Como é que o cara toca desse jeito? A música é cheia de paradas e arrancadas e MC consegue dar uma unidade na batida, sem perder o andamento, além de irradiar uma energia impossível de se reproduzir fora dos laboratórios. Essa música apresenta uma das principais características de Matt Cameron: tocar muito bem todas as partes da música, sem muitas firulas, com muito vigor, mantendo a bateria no lugar certo. E, quando é preciso, ele abre a caixa de ferramentas e manda umas viradas de cair o queixo.

SLEEVELESS
Wellwater Conspiracy – Wellwater Conspiracy, 1997

Essa é do projeto paralelo que MC mantém desde os tempos de Soundgarden. Até onde sei, além da bateria, ele toca guitarra e canta (tudo isso muito bem, por sinal). Gosto muito dessa batida e, principalmente, do som.

SPOONMAN
Soundgarden – Superunknown, 1994
Sem vergonha de assumir, essa foi a 1º música que ouvi do Soundgarden. Fiquei imediatamente impressionado com a bateria. Até aquele momento, nunca tinha ouvido ninguém tocar assim. A forma com que MC constrói o ritmo (todo quebrado) nos tambores é demais. A parte em que acontece o "solo de colher", do meio para o final da música, é um dos melhores momentos de baixo e bateria que já ouvi na vida.

GREEN DISEASE
Pearl Jam – Riot Act, 2002

Como disse anteriormente, acho que MC fez os amigos do Pearl Jam tocarem mais e melhor [na dúvida, compre os DVDs ao vivo do grupo com Matt Cameron]. Essa música (e esse disco) mostram o quanto a banda ganhou em octanagem com a entrada de MC. Nunca fui muito fã dos Pearl Jams. Sempre achei o som, no geral, meio chato, meio monocórdico. Mesmo nos anos em que eles brigavam por preços mais justos de seus ingressos, nunca consegui transferir a simpatia pessoal que tinha para o campo do apreço musical. Mas bastou MC entrar na banda para a minha opinião começar a mudar. Ainda não sou fã, mas tenho uma disposição maior para o som da banda. A levada no bell do prato de condução dessa música é impecável.

THE DAY I TRIED TO LIVE
Soundgarden – Superunknown, 1994

Clássico dos anos clássicos de MTV brasileira, né? Quantas vezes ouvi essa música... O Quim, meu amigo desde os tempos de Maskavo Roots, adorava essa música e vivia tocando no violão. Essa batida é muito foda, num compasso de 7 tempos (que vai e volta), e MC faz o troço soar muito macio. Música, arranjo, letra e gravação fodassas. Estava lendo esses dias uma entrevista com um técnico de som norte-americano famosíssimo, em que ele incluía “Black Hole Sun” (desse mesmo disco) na lista das 10 melhores baterias gravadas em todos os tempos. É uma música impressionante mesmo, mas prefiro esta aqui....

WOODEN JESUS
Temple Of The Dog – Temple Of The Dog, 1990

Introdução bem bacana. MC toca bem desenvolto nesse compasso de 3 tempos. Normalmente, a maioria dos bateristas tende a deixar uma batida desse tipo meio quadrada, com várias quinas e tropeços. Mas MC deixo o tempo respirar, dá o espaço certo entre as notas, com a entonação correta para cada nota. Gosto também da idéia por trás da marcação de madeira (ou de ferro) que rola no início da música.

GUN
Soundgarden – Louder Than Love, 1989
Essa tem todo o clima do metal. O andamento vai aumentando na maciota, sem sobressalto, com todos tocando juntos. É engraçado que MC consegue tocar umas coisas bem na linha do trash metal (pelo menos no que diz respeito à velocidade), mas mantém o pé sempre na tradição mais clássica do rock’n’roll. Se não fosse o volume, ele certamente poderia ter gravado os discos de Chuck Berry e Little Richard.

GO
Pearl Jam – Live on Two Legs, 1998

Lembro como se fosse ontem o dia em que o disco “V” do Pearl Jam foi lançado. Eles tinha o Dave Abbruzzese na bateria, que na época, era muito confundido com o outro Dave, que gravou o 1º disco da banda (e era muito melhor, por sinal). E ele, o Abbruzzese, era um cara que sabia impressionar pelo visual, pelas caretas e tal, mas sua bateria nunca me pareceu nada de mais (e até hoje não parece). O fato é que essa música tinha uma energia que desafiava qualquer banda que se arriscasse a tocá-la. E aqui, nesse disco ao vivo, logo depois de ter assumido as baquetas do grupo, MC aceita o desafio e deita e rola, triplicando todo o punch do arranjo.

MY WAVE
Soundgarden – Superunknown, 1994
Mais uma desse disco (que é impecável, por sinal). Escolhi essa música porque mostra como o rock pode ter balanço em compassos de 5 tempos, normalmente associados à música erudita. E que balanço!

GRIEVANCE
Pearl Jam – Binaural, 2000
De novo, uma introdução muito maneira. É super simples, mas MC toca o tom-tom numa hora em que ninguém tocaria, o que ajuda a dar idéia de um tempo deslocado e difícil. Na real, essa intro em 6 tempos é bem clássica, mas a idéia que ele passa é outra. E isso só faz quem sabe muito bem onde estão as subdivisões do compasso. A performance da bateria nessa música é impecável.

SUPERUNKNOWN
Soundgarden – Superunknown, 1994

Uma das músicas mais poderosas que já ouvi. Não alivia nem um segundo. As guitarras criam uma massa sonora que derruba qualquer parede de concreto. O curioso é que MC toca algumas partes da música com o ximbau fechado, o que, a princípio, não funcionaria numa música dessas. Mas ele consegue dar peso sem necessariamente ter que aumentar o volume de seu som. Dá gosto ouvir uma gravação dessas, cheia de peso e de balanço, com a voz a todo vapor, sem fazer concessões. É uma pena que essa banda tenha acabado... O Chris Cornell é um músico muuuuito foda, mas, sinceramente, nunca me empolgou no Audioslave.

podcast em http://lomez.mypodcast.com/


Era isso
abs
Txotxa