quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Coletânea, Vol. 3

Mais uma relação sortida para iniciar bem o ano...

PATRICK WILSON
“DOPE NOSE"
Weezer – Maladroit, 2002


A primeira que vez que vi um clipe do Weezer, lá nos 90, fiquei muito incomodado com a figura de PW. Dava para ver que ele tinha técnica de sobra, mas insistia em fazer gracinhas com a baqueta, fingindo que não sabia tocar direito, ao mesmo tempo em que deixava claro que tudo era facílimo para ele. Me irritei com a aquela atitude e tomei certa antipatia pelo fineza. Mas, à medida que os anos foram passando (e eu parei de ver clipes na TV), fui percebendo que a maioria dos meus amigos tinha o Weezer em alta conta. Por isso fui atrás dos discos do grupo (com o coração aberto :)) e fiquei de cara com as músicas (além de perder a bronca com PW). Escolhi essa gravação pq ela mostra bem as qualidades de PW: firmeza na batida, técnica de sobra, bom gosto e dinâmica bem sacada. Numa música com tantas partes de bateria, PW não soa busy e nem atrapalha a melodia do vocal. Ele possui muitas balas na agulha, mas, ao contrário da maioria, não precisa mostrar o tempo inteiro que sabe tocar coisas difíceis.

PAUL FERGUSON
“FOLLOW THE LEADERS”
Killing Joke – What's THIS for...!, 1981


Uma coisa que sempre me preocupa (e motiva) quando entro numa nova banda é tentar entender as influências do grupo. Saber, por exemplo, que o guitarrista da banda é vidrado em Black Sabbath é uma coisa que ajuda muito na hora de sugerir uma batida. Mas quando vc se depara com um grupo que tem um milhão de influências (a maioria totalmente desconhecida para vc), a coisa fica complicada. E, nesse caso, não existe outro caminho senão abaixar as orelhas e correr atrás do prejuízo.
Foi exatamente o que fiz ao entrar na Plebe Rude. Por sorte, o André X me emprestou alguns discos que me ajudaram a dar os primeiros passos. Um deles foi o 1º do Killing Joke. Fiquei de cara com o som – puta banda, ótimos músicas e muuuito estilo. Para não perder o bonde, fui atrás dos outros discos deles e cheguei a essa música. Desde a 1ª vez que a ouvi fiquei impressionado com a batida. Trata-se de uma programação bem simples, com os tambores de PF tocados por cima. Mas que balanço!! Uma coisa que normalmente soaria over (com tantas batidas sobrepostas), funciona perfeitamente bem. Ah, e que guitarra!!!!


BENNY BENJAMIN (1925 – 1969)
“GOING TO A GO-GO”
Smokey Robinson & The Miracles – Going To A Go-Go, 1965


Benny Benjamim é sinônimo de balanço. 90% dos maiores hits da Motown tinham suas baquetas a serviço. Juntamente com o colega musical (e de excessos), o fenomenal baixista James Jamerson, BB criou uma batida única, que influenciou diretamente a forma de dançar (e não só de tocar) de uma geração. Muitos dos passos que agitavam as pistas de dança e os programas de TV nos anos 60 baseavam-se na pegada firme e cadenciada de BB. Num certo sentido, esse é o maior elogio que um baterista pode ouvir: de tão maneira que é a sua batida, tivemos que criar uma nova dança :)
Nessa gravação, gosto muito da introdução, tocada nos tambores. Repare como ele cria uma melodia bacana, que introduz a linha do baixo.



GERRY CONWAY
“CHANGES IV”
Cat Stevens – Teaser And The Firecat, 1971

Tocar com violão é sempre uma coisa boa para o baterista. Pelo menos é o que eu penso. Diferente da guitarra, o clima acústico do violão (quando bem tocado, é claro) ajuda a amarrar a batida e deixa o baterista mais livre para “passear” pelos compassos. Essa gravação é um ótimo exemplo de como uma música com o tempo meio complicado e cheia de partes pode soar agradável e fácil aos ouvidos, graças a um violão bem tocado. A liberdade do baterista é tamanha que ele nem se preocupa em tocar o ximbau o tempo inteiro – deixa a batida fluir. E isso é sempre uma dificuldade, pq vc tem que justificar a presença da bateria no arranjo e ainda conseguir manter a “distância” adequada da batida do violão. Poucos conseguem, mas GC, tanto nessa gravação quanto nos shows com o grande Cat Stevens, tirou de letra.


DAVE RUFFY
“BABYLON'S BURNING”
The Ruts – The Peel Sessions, 1979

Mais uma banda que conheci graças ao Philippe e o André. Esse baterista me pegou de jeito. Fiquei de cara com a forma fácil que ele se coloca na música, mesmo tocando uma batida cheia de notas e usando todas as peças da bateria. Nessa gravação (ao vivo, por sinal), ele vai acentuando os tambores no meio das batidas do ximbau, sem perder a dinâmica. E ele faz de um jeito muito criativo (variando entre a caixa e o tomtom), com uma cadência infernal. A Plebe toca uma versão dos Ruts (a música é “Staring At The Rude Boys”) que é fodassa. Mas, invariavelmente, eu chego ao final pedindo arrego, tamanha é a intensidade (e não a força) da batida de DR. E se um dia quiserem tocar “Babylon’s Burning”, tô no sal :)


MICHAEL TAPPER
“NOBODY MOVE, NOBODY GET HURT”
We Are Scientists – With Love And Squalor, 2006

Ouvi essa banda no programa do Jools Holland, que é reprisado aqui pela HBO. Achei bem sacada a forma com que o baterista desloca o tempo forte do compasso (ouça o refrão). De primeira, achei a idéia meio boba, parecida com o que fazem os bateristas que estão começando a entender a estrutura do compasso. Mas fui ouvir melhor e percebi que MT sabe tocar (e muito bem) a sua bateria. No disco, existem mais umas duas músicas que seguem essa onda de trocar o tempo pelo contratempo, e que, também, funcionam na maciota. Acho legal também a forma com que ele toca a introdução. De novo, parece bem simples, mas ele faz de um jeito honesto e eficaz. Uma pena que tenha saído da banda...


DAVID ROBINSON
“ROADRUNNER”
The Modern Lovers – The Modern Lovers, 1976

Uma coisa difícil de sacar é quando o cara toca simples pq escolheu tocar assim (e tem um punhado de coelhos na cartola) ou pq só sabe tocar assim. Mas, no fim das contas, isso não importa, já que o que vale é o que está gravado, o que serve à música e ao arranjo. Quando a batida funciona, ninguém quer saber se o baterista gravou apenas com uma mão, ou suando desesperadamente a camisa.
Essa música é um ótimo exemplo de uma batida perfeita, independente da técnica de quem segura as baquetas. Aqui, se o baterista tocasse um pouco mais ou um pouco menos, a coisa não funcionaria. David Robinson achou a levada ideal para essa grande música, com o bumbo tocando quase sempre, com os pratos na hora certa e com o ximbau empurrando os colegas.
Conheci essa banda por causa do Carlos, meu amigo do Prot(o), e gostei muito do que ouvi. Ouço até hoje com muito gosto.


DANNY GOFFEY
“MOVING”
Supergrass – Supergrass, 1999

Vi o show do Supergrass no Brasil, quando eles tocaram no Hollywood Rock. Já gostava desse baterista, que, na época, era um descendente direto da arte de Mitch Mitchell. Ao longo dos anos, DG mostrou que tinhas mais cartas na manga, e por trás de uma aparente batida rápida e rasteira, havia uma solidez de fazer inveja a muito “massa bruta” por aí.
Escolhi essa música pq mostra que ele, além de veloz e firme, tem balanço de sobra.
Ótimo baterista, numa excelente gravação de uma banda fodassa.


STEPHEN PERKINS
“BEEN CAUGHT STEALING”
Jane's Addiction – Ritual de Lo Habitual, 1990

Sempre achei o SP muito adulado pela mídia baterística. Nunca vi nele uma coisa tão diferente de seus colegas californianos dos anos 80 e 90. Mesmo assim, ele tem uma moral gigante junto aos críticos norte-americanos. Talvez por causa dessa música (desse disco), não sei, ele tenha ganhando fama com essa corriola. De qualquer forma, o que ele faz nessa gravação é digno de uma nota 10! SP conseguiu dar um balanço fenomenal num funk de branco. As percussões, o baixo e a guitarra funcionam muitíssimo bem com a bateria. Uma coisa que acho bem difícil é criar uma batida que consiga reunir o drive do rock com o swing do funk. E aqui, SP conseguiu fácil, fácil.



PETE THOMAS
“TOKYO STORM WARNING”
Elvis Costello – Blood & Chocolate, 1986

Sabe quando vc escuta uma música e pensa: - “Eu gostaria de ter gravado essa”. Com as músicas do Elvis Costello (principalmente na fase dos Attractions), eu penso além: - “Gostaria de tocar como esse cara”. Até pouco tempo não sabia que o baterista para a maioria desses hits de EC era Pete Thomas. Fiquei muito impressionado com a bateria dessa música (e com todas as que ele já gravou). PT carrega nos toms uma batida difícil, cheia de inflexões, num andamento que só funciona nesse BPM (se atrasar ou adiantar a música morre). É uma aula de controle e de balanço por mais de 6 minutos. Escolhi essa música, mas existem dezenas de gravações magistrais dele com o Elvis Costello. Vale a pena ir atrás. O toque de PT é pesado na medida certa, com o swing certo, com a técnica exata.


Era isso.
Abs e feliz 2008!
Txotxa