"Walken"
Wilco (Sky Blue Sky, 2007)
Confesso que o Wilco sempre ocupou pouquíssimo espaço na minha cabeça. Nos anos 90 existia um bando de grupos legais que eu só conhecia de nome. Eram bandas sempre elogiadas, consideradas extremamente cool, e o Wilco era uma dessas. E como eu nessa época ouvia coisas mais antigas, deixei essa música de lado, já que não dava conta de acompanhar as mudanças no rock. O fato é que dez anos depois, assisti a um vídeo do baterista Glenn Kotche (que nem é o original do Wilco) e fiquei de cara. Bom, fui atrás da banda, claro, e me amarrei no que ouvi. Essa música é do último disco deles. Gosto muito da forma como a bateria entra no clima do arranjo (que é sensacional) sem chamar muita atenção.
RICK BUCKER
"Going Underground"
The Jam – Going Underground (Single), 1980
Essa introdução me quebrou a cabeça por muito tempo. Não acertava de jeito nenhum a contagem desse troço. Acho essa bateria uma das coisas mais maneiras que o rock já produziu (e a música também). Reparem como ela vai mudando de acordo com o arranjo – na estrofe toca uma coisa, no refrão outra, no bridge outra diferente. RB é um baterista de mão cheia. Todas as baterias do Jam, desde o 1º single, soam sempre muitíssimo bem. Nota 10! Uma das melhores bandas de todos os tempos.
BILLY COBHAM
"Celestial Terrestrial Commuters"
The Mahavishnu Orchestra – Birds of Fire, 1972
O impacto causado por Billy Cobham entre os bateristas nos anos 70 foi algo assustador (pelo menos já li mil baterista geniais falando exatamente isso). Não só pelo seu tipo físico (forte igual a um touro, posso dizer, já que o vi bem de perto em uma clínica realizada na Escola de Música, há uns 12 anos), mas BC sempre foi o mais próximo que um baterista conseguiu chegar de um super-herói. Sua capacidade musical aplicada à bateria, em especial com o Mahavishnu, permanece como um dos pontos de transição da bateria moderna. Nunca ninguém havia tocado desse jeito, com tanta força, com tanta velocidade, com tanta técnica e com tanto virtuosismo. Escolhi essa música pq, além de muito maneira, mostra bem a categoria de BC, que passeia por todas as partes (dificílimas, por sinal) sem perder o rebolado.
BENGT LAGERBERG
"The Boys Are Back In Town"
The Cardigans – The Other Side Of The Moon, 1994
São muito conhecidas as versões do Cardigans para duas músicas do Black Sabbath. Nos dois casos, eles conseguiram uma coisa que é o sonho de qualquer banda que se arrisque a fazer um cover: criar uma coisa nova, original, mas sem perder o norte do som original. O único problema, ao meu ver, é que, no processo, eles tiram todo e qualquer traço de macheza que a música um dia teve (hahaha!). Sério, isso incomoda um pouco. E o que dizer então dessa versão para o clássico do Thin Lizzy? Bom, de novo, deram uma esterilizada no som do grupo irlandês, mas, por outro lado, deram uma solução bacana para o balanço e para a métrica da melodia. Independente disso tudo, o Cardigans é uma banda fodassa, e o baterista, excelente – excelente, mesmo. Toca simples, mas tem um arsenal de sutilezas que de vez em quando entram em cena e levam a música para outro lugar.
GREGG BISSONETTE
"Two Fools A Minute"
David Lee Roth – Skyscraper, 1988
Bom, se o assunto antes era um som de mulherzinha (rs), agora a coisa muda de figura. Esse foi um dos discos que mais ouvi na vida. Quer dizer, pelo menos durante o último ano do meu 2º grau. Mesmo com tudo de ruim que a figura de David Lee Roth possa sugerir para alguns, uma coisa é certa: ele canta muito e sua ignorância é genuína! E a banda desse disco é sensacional (na verdade, é a mesma do disco anterior). É curioso o quanto o rock de hoje não comporta esse tipo de excesso instrumental. Imagine uma banda em que cada um dos músicos tem um espaço garantido para solo, independente da composição? O único lugar que isso ainda persiste é no nicho nu-instrumental-fusion-progressivo de troços como Dream Theater e tal. Mas esse tipo de som deixou de ter ligação com o rock’n’roll há muito tempo.
Por um lado, é uma pena que as bandas de hoje, muitas delas, simplesmente tenham deixado de lado essa coisa saudável de querer ser um bom instrumentista (com limites, é claro). Às vezes, conta mais pontos ter um visual bacana na bateria do que saber bater um pé depois do outro. O fato é que Gregg Bissonnette (junto com Billie Sheehan e Steve Vai) tinham musicalidade de sobra – e um dos piores cortes de cabelo que a MTV já exibiu. Mas a potência sonora de GB é avassaladora. Até hoje, 20 anos depois, ele é firme igual a uma rocha, além de ser um dos bateristas mais requisitados em estúdio. Para se ter idéia de sua competência, o próprio Stewart Copeland contrata os serviços de GB para gravar as suas trilhas sonoras.
FRANK BEARD
"La Grange"
ZZ Top – Tres Hombres, 1973
Dando seqüência à sessão macheza, aqui vai um grupo que melhor representa o termo “música de homem” (termo de sob licença do amigo Elcio Jr.). Essa música é bem conhecida e traz o estilo boogie de John Lee Hooker na veia. O baterista FB é um cara bem discreto, mas nessa gravação mostra o quanto sabe de shuffle (essa batida é quase impossível de ser tocada com essa fluência). Aliás, uma de suas viradas (a que antecede o solo de guitarra) foi eleita uma das 10 melhores dos anos 70 pelos editores da revista Modern Drummer. Essa é para bater o pé e quebrar a garrafa de cerveja na cara do vizinho de mesa.
LEVON HELM
"Mystery Train"
The Band (with Paul Butterfield) – The Last Waltz, 1978
Isso aqui é o gabarito de como a música do sul dos EUA deve ser tocada. Apesar de 3/4 do The Band serem canadenses, eles entendiam bastante do riscado (muito graças ao grande Levon Helm, que era americano). A gravação desse show, feita por Martin Scorcese, é uma das coisas mais maneiras que já vi. Recomendo para quem estiver de bobeira no site da Americanas (custa míseros R$ 19,00). Aqui, o grupo estava fechando as portas do negócio (pelo menos na formação original), mas ainda segurava o rojão como ninguém. E Levon Helm, que aliás é um dos cantores dessa música (e de muitas outras), passeia, acertando a dinâmica e a cadência para os colegas. Nem mesmo a versão do rei Elvis Presley possui essa crueza e esse balanço.
JEFF PORCARO
"Gaucho"
Steely Dan – Gaucho, 1980
Esse é um dos caras mais reverenciados na comunidade baterística. Além de membro do Toto (aquele super grupo meio brega), JP gravou com uma centena de estrelas nos anos 70 e 80. Escolhi essa gravação pq acho que mostra bem algumas de suas principais características: um pocket profundo (aquela coisa de segurar a batida, de tocar mais para trás do compasso); um som de ximbau fabuloso; e uma jeito muito macio de resolver todas as passagens que a o arranjo exige. Esse disco do Steely Dan é meio palha, mas essa música meio que se salva. Já a performance de JP está no nível das melhores coisas que ele já gravou.
NDUGU CHANCLER
"Billie Jean"
Michael Jackson – Thriller, 1982
Sei que todos já ouviram essa música pelos menos umas 200 vezes, mas vou propor aqui uma outra perspectiva aos ouvidos. Concentrem-se apenas na bateria. O tempo todo, fiquem ligados na forma como a bateria de NC mantém-se cadenciada, como se fosse uma máquina (no melhor sentido da comparação). Tocar isso, desse jeito, com essa galera pela frente (Michael Jackson e Quincy Jones) é um dos maiores desafios que um músico pode encontrar pela frente. E Ndugu se saiu tão bem que essa gravação é considerada sinônimo de perfeição. Sério, qualquer elogio é pequeno perto do que fez o homem nessa sessão. Não é à toa que Thriller é um dos maiores discos de todos os tempos.
E para quem se lembra daquela história (http://txotxa.blogspot.com/2007/05/bernard-purdie.html) sobre aquele meu primo que me garantia que a bateria eletrônica iria tomar o lugar dos bateristas, incluo essa música também na jogada.
MICKY WALLER
"Maggie May"
Rod Stewart – Every Picture Tells A Story, 1971
E como estamos nessa onda de caras que tocam para a música, aqui vai um ótimo exemplo: Micky Waller. Confesso que nunca ouvi falar dele. Nunca, mesmo. Mas fui atrás das coisas que ele gravou e vi que várias estão na estante lá de casa. Escolhi essa música do bom Rod Stewart, antes de ele virar o que virou, pq tem uma batida bem simples, quase Charlie Watts (só que com mais vitamina). Reparem como MW toca o ximbau poucas vezes, e como isso não atrapalha em nada o clima da música. De novo, aquela idéia de que o violão facilita muito a vida do baterista. Um clima desses, aliás, Rod Stewart nunca mais conseguiu em nenhuma de seus discos.
DAVID LOVERING
"Bone Machine"
Pixies – Surfer Rosa, 1988
Pixies é uma banda que eu só fui entender há pouco tempo. Apesar de muitos dos meus amigos adorarem, eu nunca tive muita simpatia pelas músicas. Mas ouvindo com o coração aberto, sem as dúvidas de anos atrás (hehe), percebi o quanto as composições são fodas. O guitarrista J. Santiago eu já sabia que era excelente, pq o Carlos (do Prot(o)) sempre o elogiou. Mas o baterista David Lovering nunca havia me chamado muito a atenção – pelo menos até eu ouvir essa música. Fiquei muito de cara com a construção dessa bateria, que parte de um princípio bem simples: tocar o backbeat no tempos 1 e 3, ao invés dos tradicionais 2 e 4. Aliás, várias músicas dos Pixies têm essa onda de tempo deslocado, que nos joga meio para fora da batida. Muito bom esse disco (e todos os outros aliás). Um fato curioso que descobri ao procurar uma foto de DL é que ele é um mágico de respeito. Mágico!!! Vai entender...
TERRY CHAMBERS
"English Roundabout"
XTC – English Settlement, 1982
Já falei isso algumas vezes nesse blog, mas o cara que consegue compor e tocar uma música nesses compassos de 5 e 7 tempos e ainda deixá-la macia aos ouvidos é alguém para quem eu tiro o chapéu – no melhor estilo Raul Gil (hahaha!). E essa música é exatamente o caso. Essa banda, aliás, é de uma categoria e de uma competência impressionantes. Mr. Seabra (Philippe) foi quem me apresentou esse som, e, desde então, o XTC tornou-se uma referência absoluta para arranjo e gravação para mim. Esse disco é a prova disso. Não há nenhuma nota fora do lugar, nenhuma redundância, nenhum timbre mais ou menos. Num certo sentido, é perfeito. Assim como essa gravação, que, mesmo tocada no tal compasso de 5 tempos (conte aí nos dedos e sinta o clima) tem um balanço fenomenal. E ainda com uma pegada forte de reggae! Impressionante, mesmo. Lendo sobre o XTC, descobri que Terry Chambers gravou os cinco primeiros discos da banda, além de ser um dos membros fundadores. E ainda achei isso aqui na Wikipedia: Terry is widely regarded in drumming circles as one of the most innovative and also most underrated drummers of his time. He is now a business owner in the construction industry, and is no longer involved in the music industry himself. Legal e deprê, né?
GARY MALLABER
"Everyone"
Van Morrison – Moondance, 1970
Devo muito a uma dupla de irmãos que me ajudou diminuir a orelha de burro musical. Quando tocava com os irmãos Beto e Ju, no Beto Só e os Solitários Incríveis, fizemos um show acústico que tinha no repertório uma música do Van Morison (“Crazy Love”, se não me engano). Na época, só conhecia um disco dele com uns standards de jazz. Achava legal, mas não chegava nem perto, descobriria logo em seguida, das coisas que ele gravou no começo dos anos 70. Esse disco, aliás, é uma obra prima. E ouvindo os outros que vieram na seqüência (“His Band And The Street Choir”, “Tupelo Honey” e “Saint Dominic's Preview”), percebi que, além de fodassos, todos tinham, na sua maioria, uma batida bem funky e cheia de swing. E quando fui checar o baterista, descobri que Gary Mallaber havia gravado 90% delas. Daí, foi como se eu tivesse descoberto o mapa da mina GM: ele gravou com Bruce Springsteen, Steve Miller Band (era membro do grupo), Jackson Browne, Beach Boys, Bonnie Raitt, entre outros. E, para melhorar a coisa, foi dele a bateria de uma das músicas que mais gosto de Peter Frampton (“I Can’t Stand it No More”). Com um currículo desses, não é de se admirar a forma com que ele toca essa música de VM. Cheia de rufos, paradas e de passagens suaves, mas que ele segura no braço, com muita firmeza. De novo, uma música num compasso ímpar (3 ou 6 tempos, dependendo do freguês) que soa bem macia. Ela, aliás, tem um lance maneiro que é o 3/4 (6/8) tocado contra o 2/4 (ou 4/4), o que cria um balanço ótimo. Aliás, Oswaldo Montenegro, que de ótimo não tem nada, criou várias de suas músicas nesse clima.
Podcast: http://lomez.mypodcast.com/
abs
Txotxa
13 comentários:
Tb não entendo a introdução de Going Underground do The Jam, mas porque sou leigo burro mesmo. Concordo com vc em 100% sobre essa música e sobre essa banda! The Jam é foda mesmo!!! Muito boas as outras resenhas, hein?
Valeu, Seu Nasc!
Sensacional a seleção. Wilco, Cardigans, Pixies... o rock 90.
E "arsenal de sutilezas" foi a expressão do ano. Vou usar e abusar dela.
Abração.
Grande Txotxa, como é modesto esse rapaz. Orelha de burro musical tenho eu.
Esses podcasts sortidos são os melhores. E este está cheio de músicas que eu gosto, começando por Van "the man".
Não conhecia esse Cd dos Cardigans, é tipo um B-sides?
Olha a mediunidade aí de novo: "Moondance" do Van Morrison atualmente 'mora' no meu carro.
Tem muita farofada no meio dessa seleção. Dá pra levar pra beira do Lago e fazer um churrasco.
Txotxa..arrasou!!
Jr,
valeu pela presença garantida!
Cury,
anos 90 na cabeça! :)
Ju,
vc sabe tudo e mais um pouco.
o Cardigans é um b-sides, mesmo.
F3rnando,
tá rolando uma trasmimento de pensação, hein?
abs
João,
verdade...
Grande Carlinhos,
que bom que vc curtiu. obrigado pela presença.
abração
Txotxa...levei um susto quando não te vi na bateria no show da Plebe no CB Bar em SP (13/06/08)...que bom que vc não estava por um bom motivo! vc faz falta!
:o)
Donde estás, hombre?
Atualiza o blog, TXOTXA!
ATUALIZE O BLOG
ahaahahha
q sofrimento
tá de férias é
!
Engraçado..nem sabia que vc tinha blog...
Legal essa seleção de baterista...
não entendo nada mas até que tem uns que conheço...
bjos e abraços...
ivana
Postar um comentário