segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Chad Smith


De volta ao batente.
Depois de um semestre de folga, resolvi criar vergonha na cara e postar alguma coisa. Primeiramente, queria agradecer aos colegas que postaram comentários corrigitivos às considerações que fiz sobre Carlton Barrett. No começo, fiquei envergonhado de ter escrito besteira, mas, depois de ter domado meu espírito leonino, entendi que isso faz bem ao processo de resenhar qualquer coisa. Quando a gente começa a acreditar que sabe muito, tá passando da hora de aprender mais.

Dito isso, vamos ao homenageado de hoje: CHAD SMITH.


Os amigos mais próximos sabem que nunca poupei críticas a ele (e, especialmente ao vocalista Anthony Kieds). No entanto, ao longo dos últimos anos, fui criando uma simpatia pelo gigante baterista – seja por sua persona, seja pela sua qualidade como músico.

Tanto que hj, depois de muito reclamar de sua batida (muito quadrada e repetitiva), entendo, finalmente, o que CS quer dizer quando desce a porrada em seu kit. Na verdade, não é nada de tão misterioso assim: Chad Smith toca o que pede a música. Nem mais, nem menos. E ouvindo atentamente os discos do Red Hot Chili Peppers (e as coisas que ele anda gravando com o Glenn Hughes, ex-Deep Purple), fica claro que ele entende muito bem do riscado.

Além disso, falar de Chad Smith é falar do baterista de uma das maiores bandas do planeta atualmente. E de lambuja me sobra espaço para escrever sobre o Flea, que, na minha humilde opinião, é um dos maiores baixistas de todos os tempos.

Vamos à seleção: http://lomez.mypodcast.com

SIKAMIKANICO
Blood Sugar Sex Magik, 1991 (Outtakes)
Ouvi essa pela 1a vez no filme “Wayne's World”, quando Wayne e Cassandra passeiam de Mirthmobile pelas ruas de Aurora, subúrbio de Chicago (momento nerd, hehehe). Depois, naquele documentário sobre a gravação do BSSM, vi o Frusciante gravando esse riff. Não entendo pq essa música não entrou no disco... De qualquer forma, gosto muito da forma com que Chad Smith toca essa batida, que muito parece um James Brown ligado em anfetamina anos 90. Outra coisa legal do arranjo é que o baixo não toca nas estofes. Essa música mostra muito bem a potência sonora do RHCP nessa época. É uma pena que o Frusciante não tenha agüentado a vida nas turnês e pulado fora (o que acabou levando-o a uma vida de mendicância). Sabe-se lá como seria o som deles se tivessem continuado nesse rumo?

I LIKE DIRT
Californication, 1999
Aqui CS leva um som bem no estilo dos vizinhos californianos do Tower of Power. Sua batida nessa música lembra muito (e não fica devendo nada) o toque de David Garibaldi, com umas subdivisões bem sutis e cheias de balanço. Esse tipo de composição é a cara do RHCP: um riff bem sacado e muitas horas de Jam até acertar a estrutura. E o engraçado é que ela é uma das poucas faixas desse disco que não sofrem do mal de um arranjo mal feito, com um refrão que não tem ligação com as estrofes (nem harmônica, nem melódica). De qualquer forma, “Californicaton” marca dois momentos importantes para o grupo: a volta do Frusciante (ainda meio debilitado pelos anos de junkie) e o retorno ao topo das paradas de sucesso no mundo inteiro.

NOBODY WEIRD LIKE ME
Mother's Milk, 1989
Fora o RHCP, acho que nenhuma banda conseguiria gravar um troço desses, com baixo e bateria a mil por hora, colados, tocando uma batida meio complicada e cheia de inflexões. O final da música é meio doente, mas funciona bem. Gosto muito da paradinha que acontece em 8’17”.

TURN IT AGAIN
Stadium Arcadium, 2006
Esse disco tem um som sensacional. É diferente de todas as coisas que o RHCP já gravou, e a voz de Anthony Kieds até que desce macia. Aquela onda de riff + jam parece que não cola mais, e as músicas estão mais com jeito de canção. Até mesmo esse refrão, que a princípio soa estranho em relação às estrofes, tem a ver com o clima da música. A bateria de CS serve muito bem à música (especialmente nas estrofes), com uma batida sólida e cheia de balanço. Com todo o respeito, eu só cortaria o solo de guitarra no final (muito longo, não?). Aliás, é o que vou fazer ☺. Desculpem os guitarristas, mas vai rolar um fade out nesse final...

THE RIGHTEOUS & THE WICKED
Blood Sugar Sex Magik, 1991
Lembro de uma entrevista do grande baterista norte-americano Steve Jordan onde ele analisava vários bateristas de bandas novas. Quando chegou no RHCP (não era essa a música) ele meio que deu uma sacaneada, dando a entender que faltava swing, que a batida era muito dura e tal. Mas isso, no fim das contas, era apenas implicância com o fato de os branquelos da Califórnia estarem sendo vendidos (e muito bem) com uma banda que tinha funk em algum lugar do sobrenome. O fato é que a onda de Chad Smith era outra. O funk dele estava muito mais para John Bonham do que para Funkadelic (apesar das muitas semelhanças). Essa música mostra bem a marcação sólida de CS, sem muitas inflexões, sem muita ligação com o passado da música negra dos EUA. Talvez por isso a bronca de caras mais “old school” com a bateria de Chad Smith. Nada a ver a implicância, já que o som funciona que é uma beleza.

ON MERCURY
By The Way, 2002

Escolhi essa pq é uma das poucas em que CS toca de um jeito mais tradicional, mais rock, meio ska, com o tempo dobrado. Estava lendo uma entrevista do Frusciante (maior responsável pelas melodias e harmonias do grupo) em que ele diz, na época desse disco, estar mais ligado em canções mais estruturadas, em acordes mais bonitos. E essa música é bem nessa linha, com uma estrutura que funciona bem no violão (e sem solos!). Um dos poucos momentos do RHCP sem guitarras distorcidas. Bela música (com guitarras muito bem sacadas).


WALKABOUT

One Hot Minute, 1995
Quando saiu esse disco, me lembro das brincadeiras que fazíamos em relação ao fato de o Dave Navarro ser “menos burro” que os outros 3, o que dificultaria a sua permanência na banda. Não durou dois anos, mas valeu a pena, pq esse disco tem uma cara diferente. É mais amarrado, mais pensado e menos Jimi Hendrix do que todos os outros da carreira do grupo. E a bateria de CS se enquadrou muito bem nessa realidade, tocando partes mais estruturadas, com um som de bateria mais “moderno”, com mais graves, com mais tambores. É um disco meio deprê, mas muito bem acertado.


HUMP DE BUMP

Stadium Arcadium, 2006

Vou ser bem sincero: a bateria é bem maneira – sólida, toca pouco e com eficiência – mas o baixo aqui é a coisa que se sobressai. Que som, que execução! Esse Flea é mesmo de outro mundo. E até o trompete meio doido que ele toca funciona que é uma beleza. Música nota 10!


UNIVERSALLY SPEAKING

Live in Hyde Park, 2004

De novo, uma batida que não estamos acostumados a ouvir num disco dos RHCP, numa estrutura pop (no melhor sentido) que funciona muitíssimo bem. Chad Smith segura o arranjo e mostra o lado de quem já curtiu muito Ringo Starr. Gosto dessa música pq o baixo de Flea passeia pelos acordes, deixando claro o quanto ele é diferenciado como músico. Grande momento da banda, neste momento, certamente, uma das 5 maiores do mundo.


FUNKY MONKS
Blood Sugar Sex Magik, 1991

Foda, foda, foda de tocar. Esse lance de o ximbau só tocar o contratempo, nesse andamento, exige que o cara tenha a batida sob controle. Se correr, estraga tudo; se atrasar, desanda o caldo. Chad Smith tira de letra e ainda dá uma pressão fudida. Outra parte que é complicada é a levada no solo de guitarra, no prato de condução. Dessa geração, talvez apenas o Fish (baterista do Fishbone) poderia ter gravado essa. Grande som e execução impecável. Esse disco, acho que no mundo todo, fez muitas bandas embarcarem na onda do funk metal.

MAGIC JOHNSON
Mother's Milk, 1989
Essa poderia servir de parâmetro para medir a capacidade física de um baterista. Tocar desse jeito, com esse volume (acredite, ele está descendo a lenha!), numa música cheia de partes e num andamento assim é coisa para poucos. Nesse disco, Chad Smith mostra que a troca de bateristas não trouxe prejuízo para ninguém. Mesmo que Jack Irons pudesse ser considerado um músico com mais vocabulário, CS trouxe peso e energia imprescindíveis para a guinada musical proposta pela mente de John Frusciante.


Era isso.

Abs

Txotxa