quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Coletânea, Vol. 2

Como as respostas para a postagem anterior foram legais, resolvi seguir no caminho das coletâneas. Vamos lá...

Podcast: http://lomez.mypodcast.com/


KENNEY JONES
Borstal Boys
FACES – OOH LA LA, 1973
Taí um cara que deveria estar em qualquer lista dos 10 melhores bateristas de rock de todos os tempos. Não bastasse ser sócio-fundador do importante Small Faces e, depois, do Faces, KJ foi escolhido para substituir ninguém menos do que Keith Moon nas baquetas do Who. Aliás, o Faces é uma banda que merecia muito mais destaque. Durou pouco, mas deixou discos sensacionais. Voltando ao KJ, ele consegue fazer (com o pé nas costas) o que considero ser o sonho de qualquer baterista de rock: ter técnica de sobra e, ainda assim, respeitar as características tradicionais do estilo. Ouça essa música e repare na forma que ele carrega a música nos tambores.

PS. 1 – Quando assisti ao filme “25 x 5”, sobre os Rolling Stones, lembro do Ron Wood contar que ficou preocupado em largar os Faces para ingressar nos Rolling Stones. Na época eu pensei: “Que cara louco! Que dúvida ele poderia ter?”. Hoje, eu entendo perfeitamente, já que, na época, os Rolling Stones eram, na minha humilde opinião, inferiores aos caras (desculpem o trocadilho).



WILLIE "WILD" SPARKS
Got To Go Through It To Get To It
GRAHAM CENTRAL STATION – RELEASE YOURSELF, 1974
Vamos considerar o funk (ou funky) como uma forma de tocar, e não como um estilo musical. E que o funk presente em cada músico seja algo mensurável, assim como os “midichlorians” no sangue dos Jedis :-). Seguindo esse analogia, podemos afirmar que, quando o assunto é funk, Larry Graham é mais poderoso do que Yoda, Anakim e Palpatine juntos. Não só como baixista, mas como cantor e multiinstrumentista. E a sua banda, montada após os anos na escola Sly Stone, é uma das mais avassaladoras que já existiram. Ouçam a bateria de Willie Sparks e notem como ela é diferente – ela puxa a música pára trás, enquanto o baixo empurra o ritmo como uma locomotiva. E que arranjo, hein?




PHILIP "FISH" FISHER
Unyeilding Conditioning

FISHBONE – GIVE A MONKEY A BRAIN...,1993
Descobri ontem que ele gravou o 1º disco do Fishbone com 14 anos!!! Parece coisa do demo alguém tocar daquele jeito com tão pouca idade. Vai entender... O fato é que nessa gravação, oito anos mais velha, “Fish” Fisher dá o gabarito do que é tocar ska de um jeito moderno. Notem como ele toca o tempo inteiro, com muitas notas, mas não sobrecarrega o arranjo em nenhum momento. Poucos caras são capazes de sair de uma batida dessas para um hardcore, passando para um funk, sem perder o rebolado.




JOHN DENSMORE
Peace Frog
THE DOORS – MORRISON HOTEL, 1970
Descobri essa música assistindo a série “Entourage”, na HBO. Conhecia esse disco apenas pelo superhit “Roadhouse Blues”, pois, na minha infinita preguiça, nunca havia me dado o trabalho de correr a agulha algumas faixas adiante. John Densmore é um baterista fora de série. Toca leve, tem técnica de jazzista e mantém firmemente o compasso. É uma pena que a “mística” em torno de Jim Morrison tenha, em parte, soterrado as verdadeiras qualidades musicais do grupo (dele inclusive).





ROGER POPE
Your Starter for...

ELTON JOHN – BLUE MOVES, 1976
Esse cara tocou com o Elton John em várias gravações e turnês. Até a chegada de Nigel Olsson, ele era o cara que segurava as baquetas para EJ (sem piadinhas, por favor). Gosto muito do som dessa bateria (principalmente do ximbau). Essa música mostra bem o quanto EJ era um compositor virtuoso. E acompanhar esse arranjo com uma bateria tão macia é mesmo para poucos.




CHRIS FRANTZ
Thank You For Sending Me An Angel

TALKING HEADS – MORE SONGS ABOUT BUILDINGS AND FOOD, 1978
Casamento é uma coisa difícil. Tocar numa banda durantes décadas, tão difícil quanto. E quando alguém resolve juntar as duas coisas? CF, casado com a baixista do Talking Heads, não só mostrou como é possível essa relação, como ainda colheu belos frutos no âmbito musical. A cozinha do TH não é composta de virtuosos, mas funciona que é uma beleza. Nessa música, podemos perceber o quanto baixo e bateria trabalham bem, tocando simples, mas com muita pressão. Adoro essa bateria, meio marcial e muito precisa, que já começa com o pé no acelerador. Grande música de um grande disco de uma grande banda!


CLYDE STUBBLEFIELD
I Got The Feelin'
JAMES BROWN – SINGLE, 1968
Ele é conhecido como o baterista mais sampleado da história. Eu acredito, já que a virada de “Funkin’ Drummer” virou padrão nas entrada dos hip-hops dos anos 80. E essa bateria mostra bem como CS conseguia colocar nas baquetas as idéias de James Brown. Aliás, essa é até uma coisa interessante de se pensar: qual a real contribuição do baterista quando a idéia da batida surge na cabeça do vocalista (que, no caso, também era baterista)? De qualquer forma, o simples fato de alguém conseguir executar (com tanta categoria) uma coisa tão complicada (para época) é motivo de admiração.

PS. 3 – Quem quiser ouvir essa música numa versão diferente, é só alugar “48 Horas, parte 2” e curtir o Eddie Murhpy cantando no ônibus, saindo da prisão. Sensacional...




STEPHEN MORIS
Age of Consent

NEW ORDER – POWER, CORRUPTION & LIES, 1983
Desde a época do Joy Division, a onda de Stephen Morris era outra. Ele tocava dum jeito diferente, durão, como se tivesse aprendido a bateria na marra (talvez tenha sido assim, mesmo). Mas numa banda onde o baixo é tão agudo quanto a guitarra, não poderíamos esperar um baterista tradicional, né? O fato é que SM e suas batidas diferentes casam muito bem nas composições. Particularmente, no caso do New Order, prefiro as batidas tocadas por ele, ao invés das programadas.

PS. 4 – Eu considero aquela cena do filme “24 Hour Party People”, em que o Stephen Morris fica tocando em cima do telhado, sozinho, depois de todos terem saído do estúdio de gravação, uma das mais engraçadas que já vi.

PS. 5 – Seguindo a dica do meu amigo Elcio Jr, vou disponibilizar, sempre que possível um vídeo que tenha a ver com o post. Por isso, aqui vai o New Order, em 1984, tocando essa música no estúdio.

http://www.youtube.com/watch?v=0VcGJZpfl1c&mode=related&search=



TERRY BOZZIO
Wind Up Workin' In A Gas Station
FRANK ZAPPA – ZOOT ALLURES, 1976
Simplesmente o melhor baterista que passou pelas dezenas de formações do grupo de Frank Zappa. Na minha opinião, Terry Bozzio foi o que mais se integrou aos conceitos de FZ. E a admiração do patrão por TB era tamanha que ele escreveu um solo de bateria só para ele. A peça se chama “The Black Page”, tamanha era a quantidade de notas na partitura. Além disso, TB era muito musical (cantava bem para burro) e sabia dosar muitíssimo a sua tremenda técnica com um feeling impecável. Escolhi essa música por dois motivos: 1º, está num disco que adoro; 2º, tinha a duração adequada para o podcast. Além disso, é muitíssimo bem tocada. Reparem como a bateria passa pelas partes complicadas sem nunca perder a pressão.


JOHN GUERIN
Free Man in Paris
JONI MITCHEL – COURT AND SPARK, 1974
Tocar bateria numa banda que tem violão (e que não seja MPB!) é sempre uma benção. Pq o violão amarra o som de tal forma, que a bateria fica mais livre, além de não precisar meter a mão (já que os volumes normalmente são mais baixos). E essa versão é bem o caso. A bateria toca por cima de todo mundo, bem suave, mas cheia de balanço. A classe de JG (famoso músico de estúdio nos anos 70) é imensa, e ele segue todas as “curvas” de compasso do arranjo sem se chocar com nenhum instrumento. Swing de sobra num arranjo bem sofisticado. O que não é novidade, já que JM não contratava vagabundo para a sua banda.


JAMES STROUD
Groove Me
KING FLOYD – SINGLE, 1970
Confesso que nunca ouvi falar de James Stroud na vida. Por isso fui atrás de alguma informação que me ajudasse a entender a admiração incondicional que tenho por essa gravação. No final, descobri que ele era um músico de estúdio e que hoje é um produtor de sucesso em Nashville. Não ajudou muito, né? De qualquer forma, adoro a “aparente” simplicidade com que essa música é tocada. Digo “aparente” pq não é nada simples manter essa batida o tempo inteiro, sem atropelar, sem invadir o espaço dos outros instrumentos (e essa música é toda dividida). O baixo e a voz talvez sejam as coisas mais fodas da música, mas essa bateria sempre foi, para mim, referência de groove (ê trocadilho safado...).


AL JACKSON, JR
Shake
OTIS REDDING – OTIS BLUE: OTIS REDDING SINGS THE SOUL, 1965
Deixei o mais foda dos fodas para o final. Quando assunto é soul, ninguém, mas ninguém mesmo, chega perto de Al Jackson Jr. Ele foi o baterista oficial da Stax nas décadas em que o selo era sinônimo de soul e rivalizava com a Motown. AJ era o baterista do Booker T. & The MG‘s, sensacional grupo que acompanhava, ao vivo e no estúdio, o lendário Otis Redding. “Shake” é um dos clássicos do também legendário Sam Cooke, mas OR, com a ajuda providencial de Al Jackson Jr, dá nova cara à música, transformando-a em uma de suas composições. Notem como AJ tem o controle total do arranjo e vai regendo as passagens de trás da bateria, empurrando a batida, sem perder um centímetro do balanço.

Era isso.
abs
Txotxa

14 comentários:

Ricardo Cury disse...

Como sempre, comentários são insuficientes... "Esse blog ta foda" é o comentário mais relevante.
Escolhi o Densmore pra falar. Já se ligou na bateria de "Touch Me", nas suas variações "sem avisar", porém em perfeita sintonia com a musica toda, sempre...

Como sugestão de pauta, acho que já falei isso, ta na hora de rolar algo com bateras brasileiros. Um Barone aqui, um Wilson das Neves ali, um Txotxa acolá..

Cury

Ricardo Cury disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Cury disse...

Em tempo: Se quiser escrevo o post sobre Txotxa.
;)

THE MOVIE-GOER disse...

Seu Nasc,

pô, valeu mesmo pela menção! Fico feliz em ter podido com ua m sugestão (vagabunda, convenhamos...) contribuir nesse seu trabalho (tá mais pra diversão, né?) que é realmente foda demais!
Agora, o Clyde Stubblefield é o pai do Eddie Murfy? :)

Valeu e parabéns por essas aulas sobre vários bateristas que são ótimas! Do caralho mesmo!

Txotxa disse...

Grande Cury, obrigado pelas gentilezas. E o Densmore é foda, mesmo. Quanto à sugestão, o Barone vai ser um dos próximos na lista. O resto, não presta muito :)



Jr, realmente parece pai da criança. E pode ter certeza que é diversão pura, mesmo.

Anônimo disse...

Txotxa!!!

Em BH há alguns bateras que tem a manha.
São eles:

Xandi do Pato FU - não sou muito fã da banda. O cara toca bem pacas, constantemente, toca jazz nuns bares da cidade. Tem talento pra cacete.

Jean do Sepultura - esse, sem comentários... Técnica, conhecimento e talento.
O cara é muito foda. Porra! Imagine ter que achar um substituto para o Igor??? Atualmente, considero o Jean um dos melhores bateras do Brasil.

Limão – anônimo. Tocou com Beto Guedes, Lô Borges e outros esquineiros. Técnica afiada. Segundo os críticos um talento.

Txotxa disse...

anônimo de BH,

realmente só tem fera nessa lista.
o que eu mais conheço (já até toquei com ele) é o Xande. um talento, mesmo. dos outros (desculpe a ignorância) eu não sei muita coisa.

quer dizer, se o Limão for o cara que veio tocar com o Beto Guedes aqui em Bsb, há uns 3 anos, o cara é foda, mesmo.

F3rnando disse...

John Densmore não é mais baterista, já passou a ser espécie em instinção.

F3rnando disse...

Mudando de pau pra cacete: O que vc achou da versão do Prot(o) para "Within you Without You"?

Txotxa disse...

F3rnando, eu achei a versão sensacional. Vou fazer um show com eles no dia 20, substituindo o Cristóvão, e estou torcendo para que essa música entre no set. Mesmo sendo amigo de todos eles, garanto que não estou puxando o saco de jeito nenhum. O que vc achou?
Em tempo, vc não quer me passar o seu e-mail para que eu possa te enviar as atualizções do blog?

abração

F3rnando disse...

Também gostei da versão, achei que as guitarras souberam fazer jus a ausência da cítara, que é a parada marcante da original, enfim. Harrison certamente onde estiver estará satisfeito. Não tinha te passado esse mail ainda? nono9andar@gmail.com . Aproveita e dá uma passada no myspace da minha banda http://www.myspace.com/noova

abs.

Txotxa disse...

F3rnando, curti de montão o seu grupo. Achei bem pesado (no bom sentido), com pressão. Vc é o guitarrista?

Anônimo disse...

Aposto que, na hora de escolher uma musica para o Terry Bozzio, a mão de Txotxa coçou no sentido de colocar a musica "The Ocean is The Ultimate Solution", do disco "Sleep Dirty".

Parece que não colocou porque a musica é muito longa. Mas eu diria que nesse disco o TB se supera numa batida jazz ultra fodida, meio fora do seu estilo rockeiro.

A independencia das mãos e pernas do TB, nesse musica do Sleep Dirty, é uma coisa impressionante. Mas valeu escolher a musica do Zoot Alures, que é um discaço historico tambem.

Txotxa disse...

anônimo,

com certeza o tempo é um limitador, mesmo. mas, a sua sugestão é realmente fodassa.
abraço