terça-feira, 17 de abril de 2007

Charlie Watts


Já li muita coisa sobre a aparente incompetência de Charlie Watts, lendário baterista dos Rolling Stones, com as baquetas. Eu mesmo já defendi que muitas gravações dos Stones eram frouxas e descansadas (no mau sentido). Ainda mais quando comparadas às dos Beatles. E essa “moleza”, em parte, seria culpa do baterista, não é verdade?

Mas daí, eu vejo caras como Stewart Copeland (The Police) e Mike Fleetwood (Fleetwood Mac) falarem muitíssimo bem de CW, elogiando a sua cadência e a forma como ele se coloca na música, e fico sem saber o que estou deixando passar nos discos dos RS.

Então, esse post vai tratar exatamente das qualidades pouco lembradas de Charlie Watts, um velhinho que toca na maior banda de rock de todos os tempos, mas que, como ele faz questão de deixar claro em todas as suas entrevistas, tem o interesse musical estacionado no jazz dos anos 30. Vai entender...

Ah, é importante lembrar que não vou tratar da sua carreira com seu grupo de jazz (que, aliás, já veio no Brasil) e nem das suas participações em discos de outros artistas. A seleção musical é toda de discos dos Rolling Stones.

Outro ponto: com exceção das sessões do disco Exile on Main St. (em que algumas músicas foram tocadas pelo produtor Jimmy Miller), vou considerar que o restante foi REALMENTE gravado por Charlie Watts. Portanto, se algum especialista em Rolling Stones tiver alguma informação diferente sobre as versões abaixo, por favor, me passe as coordenadas.

Vamos, então, às escolhidas:

CHERRY OH BABY (Black and Blue, 1976)
é um dos capítulos jamaicanos no livro dos Stones. essa versão da música de Eric Donaldson realmente não chega perto da original, mas tem o seu estilo. e esse estilo é exatamente a displicência com que é tocada. a batida de CW não tem a consistência dos bateristas de reggae, mas, mesmo com o bumbo mudando de lugar toda hora, com o rimshot funcionando de vez em quando e com a nítida sensação de que ele está dormindo ao longo da sessão, eu adoro essa versão. muito disso porque eles não quiseram falsificar o som. foram eles mesmos, o que, nesse caso, é uma virtude.

STREET FIGHTING MAN (Beggars Banquet, 1968)
a métrica da melodia engana a batida o tempo todo, mas a bateria de CW amarra bem os versos. gosto também da forma como o ximbau entre e sai na música. a gente ouve o chocalho o tempo todo, mas quando a mão direita de CW entra, faz toda a diferença (e dessa vez, tocando todas as notas do compasso).

EMOTIONAL RESCUE (Emotional Rescue, 1980)
4 on the floor. é assim que essa batida é conhecida (o bumbo toca os 4 tempos do compasso). o baixo de B. Wyman é o que faz a diferença, mas a bateria cumpre muito bem o seu papel. sem adiantar ou atrasar; sem muita força, mas com firmeza, CW cria um clima hipnótico que casa bem com a voz.

RIP THIS JOINT (Exile on Main St., 1972)
como disse nas observações, vou considerar essa gravação obra de CW (não vi nem e nem ouvi nada que provasse o contrário). realmente, a coisa se parece com ele. fico feliz com a energia da bateria, que começa com o pé no acelerador logo no primeiro segundo e vai até o final sem engasgar. música foda de um disco mais foda ainda.

SLAVE (Tattoo You, 1981)
CW dá todo o balanço. acho que o cowbell foi gravado depois (ou por outra pessoa), mas não diminui o swing dessa música. além disso, manter essa batida numa música que tem mais de 6 minutos não é para qualquer um. não é, mesmo. Ah, dei uma encurtada na versão original.

PAINT IT BLACK (Aftermath, 1966)
já ouvi várias versões dessa música. uma que é muito legal é a do Echo & The Bunnymen, com a excelente bateria do falecido Pete de Freitas. mas a forma tocada por CW é impossível de imitar – desde a altura das peças até a cadência da batida. e além disso, ele consegue sair de uma linha bem pesada (quando toca os toms) para o tradicional ximbau/caixa sem perder um centímetro de pegada (muito pelo contrário, até). particularmente, adoro a virada da volta para a estrofe (ali no meio da música).

LET ME GO (Emotional Rescue, 1980)
CW no seu melhor estilo. o guizo dá todo o diferencial. é uma das boas músicas desse disco e que fez muito sucesso ao vivo nos anos seguintes em que os Stones viajaram o mundo em turnês gigantescas.

AIN'T TOO PROUD TO BEG (It's Only Rock & Roll, 1974)
Benny Benjamin (lendário baterista das gravações da Motown) não teria vergonha dessa versão do clássico dos Temptations. a bateria funciona como uma luva. esse é um ótimo exemplo de como CW se enquadra bem no ritmo dos outros instrumentos. ele marca o ritmo, mas sem precisar ficar mostrando onde acaba e começa o compasso. ele coordena o tempo sem precisar “gritar” com os colegas.

HEAVEN (Tattoo You, 1981)
a combinação de vassourinha e baqueta desce macia nos ouvidos. lembra até a batida de bossa nova, mas o toque é muito mais cool. ótima música de um disco meio renegado.

O sons: https://open.spotify.com/playlist/7ETw32S5QPQZu5HiRILVr0?si=383d70a4f3084bca

Valeu
Txotxa

5 comentários:

O Pai disse...

Muito massa Txotxa. Tb acho que Exile é um dos melhores discos de rock do século passado.

Katacultura disse...

Txotxa, muito bom seu blog. Charlie watts e John Bonham são ícones na minha modesta discoteca. Se tiveres como postar um podcast sobre o keith moon, mitch mitchel, stewart copeland & Terry Bozzio seria sensacional.
Se der dá uma passada no meu blog.
http://katacultura.blogspot.com
Abração

Naja Najito disse...

Me amarro quando o Charlie Watts faz umas batidas meio Motown, como no começo de Let's Spend the Night Together. Também acho massa real a bateria de She's a Rainbow, que pára em algumas partes e, quando volta, parece um armário caindo. Por fim, curto de montão o clima pesado de Gimme Shelter. Não sei se a bateria tem influência aí, mas essa música tem algo especial, na minha opinião.

Txotxa disse...

boto fé, pedro.

naja, assino embaixo.

Anônimo disse...

bom comeco