segunda-feira, 16 de abril de 2007

Greg Errico


Não dá para escrever sobre Greg Errico sem falar antes do supergrupo Sly & The Family Stone. Formado no meio dos anos 60 em São Francisco, STFS ficou conhecido pela mistura explosiva do rock psicodélico californiano com o soul/ funk dos grandes centros urbanos. E numa época onde negros cantavam para negros e brancos para brancos, o grupo estendia os conceitos do flower power e pregava a união entre os dois lados. Nada mais apropriado, já que a família Stone incluía negros e brancos.

Pois bem, é nesse cenário que surge uma das seções rítmicas mais poderosas de todos os tempos, formada por G. Errico e pelo lendário baixista Larry Graham.

Diferente de tudo o que se tocava de funk na época, a bateria de GE era rápida, leve e tocava na frente do tempo (sem correr, é claro). Ele não tocava o tradicional pocket, atrasando um milionésimo o compasso para deixar o ritmo bem carregado. E essa sua batida, quando se encontrava com o baixo de LG (o "Rei do Ritmo", na minha opinião), criava uma onda hipnótica, onde o início e o fim do compasso dão lugar a uma contínua linha rítmica do mais puro funky (até mesmo quando tocavam rock).
Cada nota de GE era tocada com extrema precisão e firmeza. Como poucos, ele pensava, de uma só vez, cada peça da bateria separadamente. E, além disso, contribuía para as harmonias e melodias de seus "irmãos", com dinâmica e timbres únicos.

Sua fama de excelente baterista acabou ficando meio esquecida, já que fazia parte de um grupo de supergênios, como o líder desequilibrado Sly Stone e o já citado Larry Graham. Mas para os músicos da época, Greg Errico era tido em altíssima conta. Tanto que Joe Zawinul e Wayne Shorter, as cabeças por trás do Weather Report, tentaram de todas as formas comprar o seu passe nos anos 70.

Bom, vamos, então, às músicas escolhidas (todas são de STFS):


TRIP TO YOUR HEART (A Whole New Thing, 1967)
psicodelia com pegada funky e duas baterias de uma só vez. se é efeito ou não, não dá para saber, mas o bom gosto é de alto nível. muito bom também os pratos no refrão.

SING A SIMPLE SONG (Stand!, 1969)
clássico do grupo STFS. como a bateria está apenas num canal, dá para ouvir muito bem os detalhes. introdução tradicional de GE, com rufos muito bem tocados. a cadência é impressionante. bate qualquer metrônomo existente :-).

RUN, RUN, RUN (A Whole New Thing, 1967)
tocar o bumbo com essa dinâmica e cadência é para pouquíssimos. aliás, essa bateria só poderia ser tocada por ele, mesmo. até Mitch Mitchel, outro fodasso que tem o toque parecido com o seu, suaria a camisa para chegar perto desse resultado.

LOVE CITY (Life, 1968)
isso é uma aula de balanço. sem comentários...

UNDERDOG (A Whole New Thing, 1967)
1ª música do 1º disco do STFS. a combinação de ximbau e bumbo é um bom exemplo da batida hipnótica dita anteriormente. detalhe para o refrão, quando GE dá o clima com um rufo extra.

INTO MY OWN THING (Life, 1968)
introdução sampleada por Fat Boy Slim há uns anos atrás (música daquele clipe com o Christopher “Crazy” Walken dançando). GE desloca o tempo forte do 1 para o 1 ½ do compasso sem perder o ritmo.

IF THIS ROOM COULD TALK (A Whole New Thing, 1967)
de novo, duas baterias. o jeito que uma complementa a outra é muito bem pensado (e executado). além disso, é bem legal a inversão (acredito que não foi proposital) entre o baixo e a bateria. no refrão o baixo dá o balanço e bateria fica reta, nas estrofes, acontece o contrário. nota 10.

EVERYDAY PEOPLE (Stand!, 1969)
essa entrou nem tanto pela bateria, mas por ser uma das minhas Top 10 de todos os tempos. note bem como as linhas dos sopros vão se entrelaçando com os coros. é apenas uma pequena porção da genialidade de Sly Stone. uma pena o que as drogas fizeram com ele...

DOG (A Whole New Thing, 1967)
de novo, a mão direita e o bumbo. além disso, a precisão nas viradas (incluindo rufos) é impressionante. no fim do refrão, GE toca no melhor estilo de Clyde “Funky Drummer” Stubblefield, da banda de James Brown.

DANCE TO THE MUSIC (Dance To The Music, 1968)
clássico dos clássicos. “all we need is a drummer for people who only need a beat”. não há muito mais o que se dizer....


https://open.spotify.com/playlist/4NC7hjwFLr5ii6aO2hhJoj?si=ec2eaa080db24daa

abs
Txotxa

2 comentários:

Daniel Farinha disse...

Bem vindo ao mundo dos blogs...

Daniel - Plebe na pele

Txotxa disse...

valeu, daniel.