sexta-feira, 20 de abril de 2007

Ginger Baker


Eu considero o Cream um dos Top 5 power trios da história, mesmo quando comparados a “assassinos” como The Police, Rush, Jimi Hendrix Experience, Band of Gypsies, Nirvana, The Jam, Hüsker Dü etc. Não podia ser diferente, tratando-se de uma banda que conta com Eric Clapton (no auge de sua forma), o virtuosíssimo Jack Bruce e o mago (detesto essa palavra, mas não achei outra) Ginger Baker.

De certa forma, o que eles produziram no curtíssimo espaço de tempo que estiveram juntos, principalmente ao vivo, é uma coisa que ainda não foi superada. Que banda poderia improvisar, AO MESMO TEMPO, durante 20’, sem deixar a música desandar, sem perder a pegada do estilo e sem descambar para o virtuosismo chato e egoísta? Poucas, não?

Pq, normalmente, vc tem os caras que até vão bem longe no improviso, mas que só funcionam se tiverem uma estrutura minimamente sólida por baixo. No caso do Cream, essa estrutura era o próprio improviso. E esse caminho surgiu naturalmente. Não foi nada estudado. Quer dizer, algumas substâncias ilícitas ajudaram bastante, mas o potencial musical dos 3 era algo puro e espantoso. Uma pena que isso não tenha sido o suficiente para mantê-los juntos por mais tempo.

Bem, voltando ao improviso em conjunto, isso é, no caso do baterista, muito complicado, já que uma alteração na batida ou uma virada muuuuuito exagerada pode desandar a música, derrubando o(s) solista(s). Mas Ginger Baker conseguiu, de uma forma belíssima, manter o ritmo e ainda interagir com seus colegas “fominhas”.

Jazzista de formação e rockeiro de espírito, Ginger Baker é daqueles bateristas que, quando o vemos tocar, temos a certeza de que ele não vai chegar a tempo nas viradas. Mas ele sempre chega. E ainda é super rápido e preciso. Além disso, usa dois bumbos de uma forma 100% musical, bem afinados e afiados (quando necessário).

A sua bateria tem um som bem aberto, de jazz, e os pratos quase nunca são batidos com força. Ele é um exemplo do músico que faz o instrumento soar por ele, sabe? Para que descer a marreta se a pele pode vibrar e fazer todo o serviço?

Confesso que custei muito para entender as suas qualidades como músico. Não entendia nada ao ver aquela figura com cara de caveira, sofrendo a cada batida, com os braços duros e retos, tocando com dois fenômenos do rock. Pensava que GB era apenas o cara sortudo e menos talentoso do grupo. Só isso. Mas foi só eu me arriscar a tocar as suas baterias (tocar mesmo, de verdade), que eu comecei a entender pq ele sempre foi um dos grandes (até o próprio A. Ertegun, da Atlantic Records, acostumado a lidar com a nata dos bateristas norte-americanos de jazz e rock, só tinha elogios para GB).

Entonces, o podcast de hoje vai tentar mostrar as inúmeras qualidades da bateria de Ginger Baker.

É bom lembrar que deixei de fora o clássico “Toad”, música para o solo de GB. Queria mostrar como funciona a sua bateria dentro do ambiente de uma banda, ok?

Vamos ao playlist:

I FEEL FREE (Fresh Cream, 1966)
é impressionante a cadência dessa batida. GB acentua o ximbau e carrega uma música muito difícil (meio shuffle/ meio rock) nas costas. o estéreo é uma boa oportunidade para ver como cantavam bem Eric Clapton e Jack Bruce.

BORN UNDER A BAD SIGN (Wheels Of Fire, 1968)
a batida de GB é incrivelmente diferente de todas as versões já feitas para essa música. como diriam os críticos de música: “uma batida sincopada e cheia de swing”. concordo.

WELL...ALL RIGHT (Blind Faith, 1969)
essa versão do Blind Faith deu uma remexida no original de Buddy Holly. esse grupo tinha tanta coisa para dar certo, que acabou sendo o maior fracasso de todos. a levada com o cowbell na hora da estrofe dá um clima bem ritmado para a música. gosto também do timbre da bateria, um pouco mais aberto que o das gravações do Cream.

OUTSIDE WOMAN BLUES (Disraeli Gears, 1967)
blues muitíssimo bem tocado. repare como o baixo e a bateria não param um só instante. gosto do fato de GB usar pouco os pratos na levada. apenas um cara com a suavidade dele pode tocar uma música dessa forma, variando a batida o tempo inteiro, tocando em todos os tambores (fazendo de uma forma que isso se torna a uma única célula), mas sem atrapalhar a voz.

I'M SO GLAD [Live] (Those Were The Days, 1968)
essa é para mostrar o quanto a banda era impressionante ao vivo. é um bom exemplo de como eles solam ao mesmo tempo, mas não perdem nunca o norte. aumente o som e boa audição...

WHITE ROOM (Wheels Of Fire, 1968)
40 anos depois, Eric Clapton ainda toca essa música em seus shows. E mesmo com todos os grandes bateristas que tocaram com ele, ninguém chegou perto desse feeeling. de novo, o estéreo dá um nó na cabeça: veja como o bumbo parece quase separado no canal esquerdo – é como se fosse uma peça independente, tocada por outra pessoa. essa, aliás, é uma característica de GB: consegue tocar uma peça de cada vez, na sua hora, sem açodamento, e trata cada uma de uma forma diferente.

POLITICIAN (Wheels Of Fire, 1968)
me amarro nesse vai-e-vem da batida. o tempo forte está sempre mudando de lugar (e quando não está, dá essa impressão). além disso, o prato tem uma condução bem atípica para o estilo. acho que ninguém nunca tocou um blues dessa forma. muito bom os dois solos de guitarra juntos.

SWLABR (Disraeli Gears, 1967)
de novo, a altura das peças em perfeita harmonia com a bateria e com os outros instrumentos. e não falo da mixagem, mas sim da execução. música que começa com força total, e a bateria não deixa a desejar.

SUNSHINE OF YOUR LOVE (Disraeli Gears, 1967)
clássico dos clássicos. GB carrega a música nos toms, o que aumenta ainda mais o peso e a pressão. gosto muito da forma como ele deixa a música respirar entre as partes do refrão. é uma aula de como entrar e sair da música sem prejudicar o contexto e nem deixar a peteca cair.

Sons em https://open.spotify.com/playlist/7mr8vlAPhb9ULW5OxLQLsR?si=d25023b173ca4305

Ah, continuando as comparações, o animal (ou animago, como diria Harry Potter) de GB é a girafa.


abs
Txotxa

15 comentários:

vinsa disse...

Fala Txotxa, beleza? maneiro esse esquema do teu blog. È legal ouvir um batera falando dos outros bateras, desse jeito que você tá fazendo. E tá todo chique o esquema aqui! Massa! Abração!

Anônimo disse...

Alô Txotxa!
Escrevo só para dizer que sou "cliente" fixo deste blog. Estou curtindo muito suas análises sobre os bateras. Mada ver!
Um abração!

Aline disse...

Txotxa,'demorô' esse seu blog! Parabéns! Já passei o link pro meu irmão e outros bateras que, tenho certeza, vão se amarrar muito! Beijão!!

F3rnando disse...

Pô, posso fazer um "spam do bem" do meu podcast aqui?

http://podcast1.com.br/canal.php?codigo_canal=667


Abração!

Naja Najito disse...

Me amarro no Ginger Baker. Eu já ouvi falar que uma das formações do PIL contava com o cara de caveira na batera e o Steve Vai na guitarra. Nunca chequei se isso era mesmo verdade. De qualquer forma, a música Rise, maior sucesso do projeto de John Lydon, tem uma seção rítmica bem maneira, meio cerebral (além de uma guitarra virtuosa, no bom sentido). Quanto ao Cream, o que acho maneiro é que, apesar de ser uma banda formada por três caras sofisticados, eles conseguem um resultado brutal, agressivo - sem deixar de ter classe.

Unknown disse...

Só falta agora o Neil Peart?

Anônimo disse...

Aguardo a análise do grande Keith Moon !!! Já saiu?

André Mueller disse...

Txotxa, faltou o trabalho recente do GB, que, por incrível que pareca, foi o que me seduziu nesse baterista. Tem o album do PiL, chamado album, em que ele arrebenta. E o disco solo dele, com, entre outros o guitarrista do Living Color. E o tabalho dele com o Hawkwind e o Master of Reality? Exigo outro podcast!!!

André Mueller disse...

Ops, foi mals, o disco solo com o carinha do LC é do Jack Bruce e se chama A Question of Time. Mas o erro não é tão terrível assim, pois o GB toca no disco! Então coloca esse também no novo podcast do GB! O povo exige!!!!

Txotxa disse...

Vinça e Aline, valeu pela visita, queridos.

Grande Sylvio, vc é especialista no assunto. Fiquei feliz com a sua presença.

Naja Najito, assino embaixo.

Pratildes, Neil Peart já está a caminho...

Flávio, KM é um dos próximos, também...

André, o PIL, realmente podia ter entrado, como bem lembrou o Najito. os outros, eu confesso, que não conhecia. Prometo que vou correr atrás do prejuízo (hihihi).



abs para todos

Unknown disse...

Continuo sem entender nada, para mim é grego, mas gosto de receber e ler as suas dissertações, porque antes de tudo elas estão impregnadas pela sua devoção a este instrumento mágico chamado bateria, tão mal compreendido pela maioria das pessoas.
Abraços,
Nino.

Unknown disse...

Feliz de quem tem a capacidade de alcance de compreeder o
que foi o cream. A influencia que exerceu sobre tudo que veio depois deles ,foi o supra sumo do rock ou seja a nata.Foi capaz de influenciar até mesmo miles davis como ele mesmo assumiu ,alem de :beck,borget and appice,hot tuna, mountain,james gang,west bruce laing entre outros power trios. Pra se ter uma ideia o lider era o baterista com formacão em jazz que não é pra qualquer um musico que toca rock que vai tocar jazz ,porque em se tratando de musica popular ojazz é o que há de mais sublime criatividade beleza e complexidade,isso era o cream tanto que Jack bruce foi depois tocar jazz com a carla blay, e o G. baker foi tambem tocar jazz com o maior baterista de todos os tempos do jazz que era o Tonny williams.Depois falo mais pois não escrevo muito bem

Txotxa disse...

João, assino embaixo. E o Tony Williams, para mim, também é o MAIOR baterista de todos os tempos (não só do jazz). Devo postar uma coisa sobre ele em breve.
abs

Anônimo disse...


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Anônimo disse...


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